Navegações: Revista de Cultura e Literaturas de Língua Portuguesa (Jan 2015)
O Amor – segundo Clarice Lispector = Love – according to Clarice Lispector
Abstract
Em “Amor”, de Clarice Lispector, lemos a forma como a vida e a escrita se cruzam, enquanto modalidades de um encontro com o Outro no qual se suspendem os limites que separam a lei da exceção, o saber da alteridade, o real da ficção. A sua premissa é a de uma cegueira concebida como experiência, não apenas da insularidade e do aban-dono, do sepultamento vivo – tal como ela é frequentemente pensada na tradição literária do Ocidente: “eu próprio o meu sepulcro, o meu túmulo, enterrado. . . ”, diz John Milton, no seu Samson Agonistes – mas também, como em “Amor”, da alteridade e da transcendência, na indecisão limítrofe que marca toda a relação imaginária. Em Água viva, essa “cegueira” expressa-se pelo sentido de um “figurativo do inominável”. Em “Amor” é assumida na relação de identificação da personagem principal com a figura de um cego