Horizontes Antropológicos (Jun 2006)
O ativismo transnacional pela Amazônia: entre a ecologia política e o ambientalismo de resultados
Abstract
A Amazônia tem constituído um dos mais relevantes temas para o ativismo transnacional desde a década de 1970. Nos anos 1980, partindo do princípio de que o consumo de madeira pelos países do Norte seria a principal causa do desflorestamento amazônico, as campanhas centraram foco primordialmente no comércio madeireiro, com ênfase especial no boicote à madeira tropical por parte de consumidores europeus e norte-americanos. Os anos 1990, contudo, registraram uma mudança paradigmática, a qual vem orientando, desde então, as políticas florestais. Influenciados por determinado discurso hegemônico sobre "desenvolvimento sustentável", ambientalistas treinados no campo da engenharia florestal e em áreas correlatas foram guiados pela crença de que poderiam influenciar o comércio madeireiro em direção a práticas menos predatórias. Com isso, as ONGs associaram-se ao setor madeireiro para o desenvolvimento de um esquema de certificação florestal conhecido como Forest Stewardship Council - FSC, ou Conselho de Manejo Florestal, destinado a melhorar as práticas florestais em todo o mundo. Influente junto ao Banco Mundial, o foco na chamada "vocação florestal" da Amazônia tem, no entanto, apresentado resultados questionáveis no que diz respeito à sustentabilidade das sociedades e ecossistemas locais. Este artigo discute algumas das dimensões dessa nova política para a Amazônia que, orientada por uma perspectiva de mercado, torna invisível a diversidade de culturas e ecossistemas locais, distanciando-se, nesse sentido, de uma racionalidade ambiental que se pauta na justiça ambiental como vetor da sustentabilidade.The Amazon Rainforest is one of the most important topics of transnational activism. Based on the assumption that the consumption of timber in the Northern hemisphere is largely responsible for deforestation, campaigners have focused on the global timber trade. From a strategy of boycotting tropical timber in the 1980s, environmentalists shifted their approach to one influenced by a discourse on "sustainable development" in the 1990s. Believing that they could persuade loggers to use less predatory practices, the mainstream NGOs developed a certification scheme in association with timber companies known as the FSC - Forest Stewardship Council. Since then, the NGOs have gained influence over international policies. The focus on the so-called "Amazon forestry vocation", however, may lead to doubtful results when sustainability of local societies and ecosystems are considered. This article discusses some dimensions of the new Amazon policies that are driven by a global market perspective and which may consequently render local and diverse cultures invisible, therefore opposing to environmental justice as a driving force for sustainability.
Keywords