Jornal de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (Feb 2023)
Fatores associados à polifarmácia em idosos residentes em comunidade
Abstract
Introdução: O termo polifarmácia é utilizado para traduzir o uso de vários medicamentos, e sua prática em idosos tem sido frequentemente relacionada a efeitos adversos, interações medicamentosas, internações hospitalares e internamento prolongado. Acrescido a esses fatos, deve-se levar em consideração ainda, as particularidades fisiológicas dos idosos, pois estes possuem alterações farmacocinéticas (aumento da gordura corporal, redução da água corporal, redução do metabolismo hepático e da excreção renal) e farmacodinâmicas que podem modificar a ação dos medicamentos. Objetivo: Quantificar a utilização de polifarmácia e identificar os fatores associados a essa prática entre idosos residentes em comunidade. Métodos: Foi realizado um estudo de corte transversal, de base populacional e domiciliar. A população do estudo era composta por 355 idosos, no qual foram registrados 17 (4,8%) recusas e 22 (6,2%) não foram encontrados após três visitas domiciliares em dias alternados, sendo consideradas perdas, resultando em população final de 316 (89%) idosos. Para a coleta de dados foi utilizado um formulário específico, baseado no questionário utilizado na Pesquisa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), realizado em sete países da América Latina e do Caribe. O uso de polifarmácia foi considerado como a utilização concomitante de 3 ou mais medicamentos, as variáveis sociodemográficas, comportamentais e condições de saúde foram coletadas por meio de um questionário próprio e o nível de atividade física pelo International Physical Activity Questionnaire. Resultados: Participaram do estudo 316 idosos com idade média de 74,2 ± 9,8 anos, sendo 54.7% do sexo feminino. Na análise ajustada, a polifarmácia esteve associada ao sexo feminino (RP = 1,40; IC95%: 1,08-1,81; p = 0,011), naqueles com faixa etária de 70 a 79 anos (RP = 1,58; IC95%: 1,18-2,11; p = 0,002), nos insuficientemente ativos (RP = 1,41; IC95%: 1,11-1,78; p = 0,005), hipertensos (RP = 2,37; IC95%: 1,24-4,52; p = 0,009), diabéticos (RP = 1,49; IC95%: 1,22-1,82; p < 0,001) e com duas ou mais doenças crônicas (RP = 4,35; IC95%: 1,20-15,73; p = 0,025). Conclusão: Observou-se uma elevada prevalência de idosos que faz uso da polifarmácia, neste sentido a abordagem terapêutica na população idosa constitui um desafio para os prescritores e para o Sistema Único de Saúde, sendo de suma importância que seja avaliado não só o número de medicamentos, mas também as classes e doses empregadas, uma vez que as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas devem ser levadas em consideração, bem como as interações medicamentosas e a possibilidade do uso de medicamentos inapropriados para idosos.