Horizonte (May 2009)
Ser mãe: o amor materno no discurso católico do século XIX
Abstract
Resumo Este artigo analisa parte do discurso que a Igreja Católica teceu sobre as mulheres, enfatizando o tema da maternidade durante o século XIX. O enfoque parte da Bulla Sylabus (1864), expedida no pontificado de Pio IX, e da encíclica Rerum Novarum (1891), do Papa Leão XIII. Entre a segunda metade do século XIX e a Primeira Guerra Mundial, a Igreja passou pelo processo conhecido como "romanização", caracterizado pela preocupação moral e disciplinar do clero diante de críticas do laicado, além da promoção de ordens e congregações religiosas. O objetivo deste artigo é, portanto, discutir como aquela instituição definiu um papel social feminino vinculado à ideia do amor materno, divulgado como natural e incondicional. A partir da contribuição dos estudos de gênero, aborda a atribuição de características masculinas e femininas para a distinção não apenas biológica entre homens e mulheres. Concluiu-se que, na longa duração, o discurso católico passou de uma postura misógina - de recusa do sexo feminino - à incorporação das mulheres como público essencial para a sustentação do catolicismo diante das propostas de laicização da sociedade ocidental contemporânea. Palavras-chave: Mulheres; Discurso católico; Maternidade; Gênero. AbstractThis paper discusses part of the discourse that the Catholic Church built in order to define woman's role in the 19th century, emphasizing representations of motherhood. The focus starts with Pius IX's Bulla Sylabus (1864) and Pope Lion XIII's Rerum Novarum (1891). Between the second half of the 19th century and World War I, the Catholic Church underwent a process known as "Romanization", characterized by the clergy's moral and disciplinary concern in face of the laity's criticism, and by the promotion of new religious orders and congregations. The paper considers, therefore, how the Catholic Church defined a social female role linked to the idea of maternal love, diffused as natural and unconditional. With basis on the contribution of cultural history and gender studies, it demonstrates how that Church attributed male and female characteristics to the distinction not merely biological between men and women, associating the latter with the idea of motherhood and natural love for their children. It concludes that, through time, the Church has changed its misogyny discourse - refusing the female sex - into one that incorporates women as essential to support Catholicism in facing the laicization of contemporary western society. Key words: Women; Catholic discourse; Motherhood; Gender.