Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
CARACTERIZAÇÃO DAS REAÇÕES TRANSFUSIONAIS TARDIAS DE ALOIMUNIZAÇÃO EM DOIS HOSPITAIS DA FUNDAÇÃO HOSPITALAR DE MINAS GERAIS
Abstract
Objetivos: analisar os casos de aloimunização após hemotransfusão administrada no HJK e Hospital Eduardo de Menezes (HEM), avaliando características dos pacientes e os anticorpos identificados. Material e métodos: Análise retrospectiva baseada em dados de prontuário e demais registros da agência transfusional (AT). O critério de inclusão foi o surgimento de aloimunização entre 01/01/22 a 30/06/24, em paciente com PAI negativa previamente. Foram excluídos os pacientes que apresentavam PAI positiva desde o primeiro exame na unidade. Resultados: : Nesse período 82 pacientes apresentaram PAI positiva, em 18 destes (23%) foi observada que a PAI se tornou positiva após transfusão (7 mulheres e 11 homens). A mediana de idade foi de 42 anos (variou de 27 a 81 anos). Todos os pacientes receberam, pelo menos, 1 concentrado de hemácias (CH) antes da aloimunização (mínimo de 1, máximo de 10 CH e média de 3,7 CH). Além de CH, 1 paciente recebeu 1 dose de CRIO, 1 paciente 1 dose de PFC e 1 paciente 1 pool de plaquetas. A mediana de tempo entre a primeira transfusão e a PAI positiva foi de 16 dias (variou de 1 dia a 232 dias). Em 11 pacientes foi identificado apenas 1 anticorpo, 2 anticorpos em 5 pacientes e 3 anticorpos em 2 pacientes. O anticorpo mais comum foi o anti -E (3 pacientes), seguido do -C, -Kell, -Leª, -M, -P1 (2 pacientes cada) e -Le, -Luª, -Kpª, -Jkª(1 paciente cada). Não foi possível definir a especificidade do anticorpo em 3 pacientes. Houve 2 pacientes com autoanticorpos isoladamente. As comorbidades mais prevalentes foram as doenças cardiovasculares, pneumológicas e infecciosas (principalmente HIV). Discussão: O aparecimento de anticorpos irregulares após uma transfusão é caracterizado como uma reação transfusional tardia. Aloimunização contra antígenos clinicamente significativos é considerada como gravidade grau II (moderada), uma vez que há necessidade de intervenção médica com o uso de CH fenotipado para evitar reações hemolíticas. No estudo, pacientes com doenças cardiovasculares foram muito acometidos, compatível com a alta prevalência dessas doenças na população, além de doenças pneumológicas e infecciosas que refletem o perfil de pacientes atendidos pelo HJK e HEM, referências em doenças pneumológicas e infecto-contagiosas. Uma influência da inflamação sistêmica ocasionada por essas doenças também pode ter contribuído para maior predisposição à aloimunização. Os anticorpos mais comuns foram do sistema Rh (E e C), além do K, que podem ocasionar reações hemolíticas graves, demonstrando a importância da fenotipagem para esses antígenos em pacientes politransfundidos e mulheres em idade fértil. Conclusão: A aloimunização é uma reação transfusional com impactos negativos para o receptor e instituição. Dessa forma, é necessário adotar medidas de educação multiprofissional sobre o uso de transfusões de forma racional, além de alternativas à transfusão como fármacos que atuam na causa da anemia e tolerância fisiológica do paciente à anemia. Essas medidas são chamadas de Patient Blood Management e requerem implementação urgente nos hospitais, sendo já iniciado na FHEMIG.