Signo (Jul 2012)
A IRONIA E A NÃO FICÇÃO
Abstract
O texto em questão é um ensaio, no qual se discorre sobre a presença da ironia de eventos em incidentes não ficcionais relatados pela imprensa, abordando-se também o interesse que tais narrativas despertam no público leitor. Tomando como exemplo a tragédia de Édipo, o ensaio inicialmente apresenta o conceito de peripécia, termo citado na Poética, de Aristóteles, para designar a transformação de uma determinada situação em seu extremo oposto – onde uma ação bem intencionada, por exemplo, acaba resultando em desgraça, onde o que deveria ser bom se transforma em algo muito ruim. A seguir, argumenta que a peripécia, apesar de empregada por Aristóteles para conceituar um fenômeno presente na narrativa literária, não está restrita à ficção. O ensaio invoca eventos não ficcionais, narrados pela imprensa, nos quais pessoas reais sucumbem vítimas de incidentes que bem poderiam ser comparados a peripécias. Um destes eventos citados é a morte do deputado estadual Euclydes Kliemann, assassinado em 1963 em decorrência de posturas que tinham, obviamente, objetivos bem diferentes do trágico desfecho a que se chegou. No decorrer deste ensaio, é apresentando o termo ironia de eventos, também empregado para conceituar situações onde determinada ação atrai um resultado oposto ao previsto pelo agente. Após demonstrar a existência de peripécias não ficcionais, o ensaio passa a divagar sobre os motivos pelos quais tais narrativas despertam grande interesse no público, inclusive entre leitores sem interesse pela literatura. Cita autores para os quais o gosto pelo relato da tragédia alheia é inerente ao ser humano, mas observa que enredos dotados de peripécias vão além da mera narrativa da desgraça do outro. Conclui que, dentre os motivos de tamanho interesse, possivelmente está a constatação, por parte do leitor, de que qualquer indivíduo pode ser vítima de uma “ironia do destino” – inclusive ele próprio.