Gazeta Médica (Mar 2022)
Evolução da função renal em doentes com acidente vascular cerebral submetidos a terapia endovascular
Abstract
INTRODUÇÃO: No acidente vascular cerebral isquémico agudo, a terapia endovascular indicada na oclusão de grande vaso cerebral suscita preocupações quanto à exposição adicional a radiocontraste. Procuramos caracterizar a evolução renal visando identificar nefropatia induzida por contraste e estudar o impacto da doença renal preexistente. MATERIAL E MÉTODOS: Estudámos retrospetivamente admissões na Unidade de Doenças Cerebrovasculares do Hospital Central do Funchal entre março 2017 e fevereiro 2020 com necessidade de terapia endovascular neste contexto. Obtivemos características demográficas e semiológicas. Registámos creatinina plasmática em três momentos. Apurámos como desfechos: nefropatia induzida por contraste, índices neurofuncionais e óbito intra-hospitalar. Comparamos aqueles com taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) < 60 mL/min/1,73 m2 com os restantes. RESULTADOS: Na amostra de 62 casos (32 homens [51,6%], idade 69,6 ± 10,9 [média ± desvio-padrão] anos, National Institutes of Health Stroke Scale [NIHSS] à admissão 15,0 ± 5,9), descrevemos a creatinina plasmática: admissão 0,98 ± 0,23; 48 horas 0,86 ± 0,21; 5º-7º dia 0,87 ± 0,22 mg/dL. Nenhum cumpriu critérios de nefropatia induzida por contraste. Aqueles com TFGe < 60 mL/min/1,73 m2 (16 casos, 25,8%) não diferiram na evolução nefrológica (variação da creatinina plasmática às 48 horas: -0,17 ± 0,13 versus -0,11 ± 0,11 p=0,067) ou neurológica (modified Rankin Scale ? 2: 31,3% versus 23,9% p=0,563; ? NIHSS: -0,94 ± 9,6 versus -2,9 ± 9,0 p=0,479; óbito: 18,8% versus 19,6% p=0,943). CONCLUSÃO: Nesta amostra, não se detetaram casos de nefropatia induzida por contraste. Aqueles com TFGe < 60 mL/min/1,73 m2 pré-procedimento, também não demonstraram pior desfecho.