Revista Brasileira em Promoção da Saúde (Jun 2011)

Mental health care in the Family Health Strategy

  • Edyr Marcelo Costa Hermeto,
  • Isabel Cristina Luck Coelho de Holanda

Journal volume & issue
Vol. 24, no. 2
pp. 93 – 94

Abstract

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A Revista Brasileira em Promoção da Saúde (RBPS), com enfoque nas políticas públicas e promoção da saúde, cumpre um papel de importância na produção do conhecimento em que o nacional e o universal se relacionam e se fertilizam de forma particularmente interessante. A cientificidade tem que ser pensada como uma ideiareguladora de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos. A história da ciência revela não um “a priori”, mas o que foi produzido em um determinado momento histórico com toda a relatividade do processo de conhecimento(1).É nesse sentido que a pesquisa científica caminha sempre em duas direções:numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminhase para direções privilegiadas. E, ao fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da historicidade, da colaboração e, sobretudo, imbuem-se da humildade dequem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído(1).Na última década, o campo da atenção em saúde mental no Brasil tem sido marcado por um conjunto de iniciativas que buscam a superação do paradigma asilar e a produção de novas instituições, saberes e culturas na relação com os sujeitos com sofrimento psíquico. Os movimentos que emergiram no final dos anos70 deram início ao projeto de transformação, denominado de Reforma Psiquiátrica.Mediante este princípio, a Atenção em Saúde Mental se propõe a trabalhar junto às equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). É importante ressaltar que as ações desenvolvidas na ESF confrontam o modelo manicomial, pois rompem com a lógica da especialização, e, portanto, ampliam para fora do hospital psiquiátricotodas as ações de atenção em Saúde Mental.A representação que se formou na nossa sociedade em relação à loucurafez com que o doente mental ocupasse um lugar de total anomia, alienação e despersonalização. Perdeu sua garantia de crédito social, de respeitabilidade,diante de um estigma que o reduziu a quase nada, gerando quebras de comunicação com o resto da sociedade, através da “surdez”, da indiferença, num processo de estigmatização e consequente exclusão e confinamento.Sair da “surdez”, ouvir o outro e ajudar a resgatar as perdas implica em aceitarmos o caos dentro de nós; caos no sentido de abandonar o velho e assumir o novo, de abertura para novos conceitos, novas ações(2). Só será possível mudar esseparadigma, se, verdadeiramente, nos responsabilizarmos enquanto trabalhadores de saúde, enquanto cidadãos.Assim, é necessário restituir a vida do indivíduo, devolver aquilo que lhe é próprio, reconhecendo que ele é sujeito com direitos e necessidades. Portanto, torna-se essencial que os trabalhadores de Saúde Mental estejam envolvidos nesse processo, tendo sempre como meta a cidadania e a luta contra o estigma.Considerando a complexidade das demandas em Saúde Mental, há necessidade de se articular à ESF na assistência prestada ao sujeito com transtorno mental. Os profissionais envolvidos devem assumir o importante papel de mediadores no processo de reinserção social, já que este sujeito está imerso nos territórios, bem como devemser disponibilizados espaços de promoção, prevenção e tratamento da saúde, tanto para os usuários como para os familiares, possibilitando, assim, o fortalecimento dosvínculos sociais e familiares.O processo de extensão da cobertura da ESF demonstra a crescente e intensiva difusão da rede substitutiva de Saúde Mental numa trajetória frutífera de reversão do modelo assistencial centrado no hospital psiquiátrico para um modelo baseado no restabelecimento das relações afetivas e sociais dos sujeitos e na reconquista de seu poder social(3).É importante o tema em pauta e que não se cessem jamais os questionamentos e os novos dispositivos de atenção em Saúde Mental e da relação com a ESF no âmbito nacional.