Calidoscópio (Nov 2011)
O poder hegemônico da ciência no discurso de popularização científica
Abstract
A popularização da ciência na mídia francesa contemporânea mobiliza posições enunciativas (público, indústria ou governo) em um debate público sobre a ciência (Beacco et al., 2002). Entretanto, análises prévias de notícias de popularização da ciência em inglês e em português (Motta-Roth e Lovato, 2009; Lovato, 2010; Marcuzzo, 2011) evidenciam uma inserção quase exclusiva da voz de atores sociais ligados à ciência. Essa preponderância indica que essas vozes são utilizadas como um recurso de autoridade com efeito de monologismo o que, por sua vez, produz um “intertexto monologal” centrado na ciência (Moirand, 2003, p. 179): a rigor, não há uma interação entre consciências equipolentes ou vozes plenivalentes (Bakhtin, 2008, p. 4-5). Com base na Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2003) e no Sistema de Avaliatividade (Martin e White, 2005), neste trabalho, analisamos em que medida esse efeito se verifica em um corpus de 30 notícias de popularização da ciência recentes, publicadas nas revistas Ciência Hoje e Galileu. Os resultados indicam a predominância dos expoentes linguísticos da expansão dialógica. O uso constante demodalização, citação e relato mostra que os jornalistas constroem o tópico desses textos como uma questão aberta, convidando posicionamento salternativos. Por outro, observamos que as perspectivas sobre a descoberta científica popularizada são praticamente restritas à esfera científica, o que, de fato, restringe o espaço dialógico, reafirmando o poder hegemônico do discurso da ciência no discurso de popularização científica. Palavras-chave: dialogismo e intertextualidade, análise crítica do discurso,sistema de avaliatividade, notícias de popularização da ciência.