Opus (Apr 2018)

O errado que deu certo: Deu onda, o debate da harmonia e a construção da batida numa produção paulistana de funk carioca

  • Adriana Facina,
  • Renan Ribeiro Moutinho,
  • Dennis Novaes,
  • Carlos Palombini

DOI
https://doi.org/10.20504/opus2018a2411
Journal volume & issue
Vol. 24, no. 1
pp. 222 – 263

Abstract

Read online

Em 21 de dezembro de 2016 o MC G15 lançou no canal KondZilla do YouTube o vídeo de Deu onda, produção musical do DJ Jorgin, que rapidamente atingiu três milhões e meio de visualizações diárias. Ao mesmo tempo, desenrolava-se nas redes sociais e expandia-se para a mídia corporativa uma polêmica, inédita no funk carioca, acerca da harmonia da música. Antropologia e análise musical refutam a ideia de bitonalidade para situar o debate na arena dos conflitos entre “mundos da arte” (BECKER, 1982) entrecruzados. A “tecnologia de encantamento” (GELL, 1999) de Deu onda envolve: (1) a construção da textura por meio de seis linhas cíclicas, em ciclos de um, dois ou quatro compassos, combinadas com quatro linhas acíclicas; (2) a organização de dois subgrupos de linhas, ou “tramas”, harmonicamente complementares, com funções diversas; (3) a articulação das seções por meio de seis tipos de breques; (4) o recurso a três ordens de variações da textura; (5) a sobreposição de uma figura rítmica característica do reggae a outra típica do funk carioca; (6) a aplicação a toda a melodia de um esquema harmônico concebido em função da primeira frase; (7) a evocação “afrofuturista” (ESHUN, 2003) de uma roda de funk; e (8) jogos de sentidos que fazem a música deslizar entre subgêneros distintos. O debate público acerca da bitonalidade de Deu onda contribuiu para generalizar a preocupação harmônica entre os DJs-produtores do “mundo funk” (VIANNA, 1988).

Keywords