Revista Portuguesa de Pneumologia (Sep 2002)

Avaliação a longo termo da terapêutica com tiotropium inalado uma vez ao dia na doença pulmonar obstrutiva crónica

  • R. Casaburi,
  • D.A. Mahler,
  • P.W. Jones

Journal volume & issue
Vol. 8, no. 5
pp. 473 – 475

Abstract

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RESUMO: O objectivo do estudo foi avaliar a eficácia e segurança do tiotropium – um anticolinérgico inalado de toma única diária – no tratamento da DPOC.O estudo – randomizado, duplamente cego e controlado com placebo – envolveu doentes com DPOC estável e teve a duração de um ano.Os doentes seleccionados eram de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 40 anos, FEV1<M 65% e FVC<70%, sem OLD e sem corticoterapia superior a 10 mg no mês prévio.A terapêutica consistia na inalação de 18 Mg de tiotropium versus placebo, sendo permitida a toma de salbutamol inalado em SOS, teofilina, corticóides inalados ou orais na dose máxima diária equivalente a 10 mg de prednisolona.Ao longo do estudo avaliou-se o FEV1 (imediatamente antes da inalação da terapêutica e até 3 horas depois), a dispneia e a qualidade de vida relacionada com a saúde (SGRQ). Foram também registados o uso de medicação adicional e as reacções adversas. O estudo envolveu 921 doentes, 550 dos quais medicados com tiotropium (randomização 3/2), permitindo concluir que: · O tiotropium produziu maior broncodilatação, com significado estatístico em relação ao placebo – aumento médio do FEV1 em relação ao valor basal de 12% na medição prévia à inalação e de 22% na medição 3 horas após inalação. · Este efeito broncodilatador manteve-se ao longo dos 12 meses de estudo. · O tiotropium também melhorou de forma significativa o grau de dispneia e o score de qualidade de vida. · O número de exacerbações e de hospitalizações foi também menor no grupo tratado com tiotropium. · As reacções adversas foram comparáveis nos dois grupos, excepto a incidência de secura da boca, que foi mais frequente nos doentes tratados com tiotropium (16% versus 2,7%). Os autores concluiram que o tiotropium, pela sua eficácia e segurança, terá uma contribuição importante na terapêutica da DPOC. COMENTÁRIO: A terapêutica broncodilatadora, embora sem alterar a evolução natural da doença, é fundamental no controlo dos sintomas, sendo recomendada pelas normas internacionais e nacional de actuação na DPOC. Os anticolinérgicos inalados, representados pelo brometo de ipratropium, têm sido utilizados desde os anos 70 e considerados seguros e eficazes, embora com a desvantagem da necessidade de 4 tomas diárias. O novo agente anticolinérgico tiotropium apresenta maior duração de acção compatível com posologia única diária, o que é desde logo uma vantagem na adesão à terapêutica. A sua eficácia de 24 horas na dose de 18 Mg foi confirmada num estudo prévio com avaliação espirométrica seriada. Além disso, num estudo comparativo com o brometo de ipratropium com a duração de 1 ano, o tiotropium excedeu os benefícios alcançados com o ipratropium em relação à melhoria da função pulmonar, da dispneia e da qualidade de vida relacionada com a saúde e à redução das exacerbações. A resposta broncodilatadora mantida ao longo de um ano de estudo demonstra ausência de taquifilaxia neste período de tempo. De realçar a melhoria subjectiva da dispneia e do estado de saúde com o uso de tiotropium, embora igualmente mereçam realce os estudos com beta-2 de longa-duração que demonstraram também a melhoria dos sintomas e da qualidade de vida relacionada com a saúde. A redução das exacerbações conseguida com a terapêutica com tiotropium terá um impacto positivo na qualidade de vida dos doentes e nos gastos em saúde decorrentes dos custos directos e indirectos da doença. Do mesmo modo, outras terapêuticas recomendadas na DPOC mostraram reduzir o número de exacerbações, conforme resultados do estudo ISOLDE e de estudos com beta-2 de longa duração. Assim, os resultados obtidos face à eficácia, segurança e comodidade de administração, apoiam o uso de tiotropium como anticolinégico de primeira escolha e broncodilatador de primeira linha no tratamento de manutenção da DPOC. Contudo, pelo acima exposto, seria interessante a realização de estudos comparativos, nomeadamente com os beta-2 de longa duração e ainda estudos com combinação de fármacos em situações mais graves, onde a demonstração de ganhos adicionais, mesmo que pequenos, seriam valorizáveis. Palavras-chave: DPOC, tiotropium