Revista de Saúde Pública (Jun 1999)
Mortalidade em migrantes japoneses residentes no Paraná, Brasil Mortality among japanese migrants living in a State of Parana, Brazil
Abstract
INTRODUÇÃO: A experiência da morbimortalidade de migrantes em relação aos padrões existentes nos locais de sua origem e seu destino mostra-se interessante, em epidemiologia, permitindo distinguir possíveis fatores de risco culturais, sociais e ambientais, por um lado, e aqueles genéticos, por outro. O objetivo do estudo foi analisar o padrão de mortalidade da população de nascidos no Japão e residentes no Paraná (Brasil), comparando-o ao perfil do Japão e ao do Paraná. MÉTODOS: A população exposta foi constituída pelos imigrantes japoneses - isseis - residentes no Paraná, com 50 e mais anos, identificada por ocasião do X Recenseamento Geral do Brasil, em 1º de setembro de 1991. Os óbitos, ocorridos entre 1º de março de 1990 e 28 de fevereiro de 1993, foram apurados do Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde. Foram calculadas taxas de mortalidade padronizadas por idade, ajustadas pela população-padrão mundial de 50 e mais anos, em cada sexo, para cada grupo de estudo. Foram estimados a razão de mortalidade padronizada e o respectivo intervalo de 95% de confiança para causas selecionadas, relacionando isseis/residentes no Japão e isseis/residentes no Paraná. RESULTADOS: A mortalidade das mulheres isseis ocupou posição intermediária quando comparada à do Japão e à do Paraná; os homens apresentaram valor bastante próximo ao do Japão. Isseis do sexo masculino, quando comparados com os homens do Japão, apresentaram taxa significantemente mais baixa para câncer de estômago, porém, mais alta para diabetes e doenças isquêmicas do coração. Em mulheres isseis somente a taxa de mortalidade por câncer de pulmão apresentou-se significantemente inferior à taxa feminina do Japão; as demais taxas foram estatisticamente maiores. Quando os dados foram comparados com os do Paraná, os isseis apresentaram taxas mais baixas para doenças isquêmicas do coração e doenças cerebrovasculares, porém, similares quanto ao câncer de estômago e de pulmão. Diferentemente dos homens, entre as isseis houve taxas mais baixas para câncer de pulmão e doenças isquêmicas do coração. Para diabetes mellitus e doenças cerebrovasculares não foram constatadas diferenças estatisticamente significantes. CONCLUSÃO: Evidenciou-se afastamento do padrão de mortalidade de isseis quando comparado ao de seu país de origem (Japão) e uma aproximação ao perfil do local de destino. Tais constatações sugerem influência de fatores socioculturais, principalmente, das práticas dietéticas, na mortalidade por alguns agravos.INTRODUCTION: Taking as a premise that the study concerning the morbimortality of migrant populations may make a contribution to a better understanding of the epidemiology of diseases, mainly the chronic-degenerative ones and their related risk factors, the aim of this study is an analysis of the mortality experience of a population of migrants born in Japan, but living in the State of Paraná, Brazil, and a comparison of their pattern of mortality with those of Japan and Paraná. METHODS: The population studied was composed of the Japanese migrants - Issei - living in the State of Parana, Brazil, of more than 50 years of age, identified in the X General Brazilian Census of 1st September, 1991. Information on deaths which occurred between 1st March 1990 and 28th February, 1993, was obtained through the Ministry of Health data base. The main causes of death were analysed after the calculation of the age-adjusted death rates, using the world standard population older than 50 years old, for each sex, for the Issei, the inhabitants in Japan and in Paraná. Standardized Risk Ratio - SRR - and respective 95% confidence interval were estimated for selected causes among Issei versus the population living in Japan and Issei versus persons living in Paraná. RESULTS: Among the main results, it was observed that the female Issei mortality rate was in an intermediary position when compared to Japan's and Paraná's rates, while men showed figures quite close to the Japanese rates. Concerning the specific causes, it was observed that among male Issei, when compared to the Japanese population, the rates were significantly lower for stomach, but higher for diabetes and ischaemic heart diseases. Regarding the female Issei aged 50 or more years old, only the death rate for lung cancer was itself significantly lower than that of Japanese women. When compared to the Paraná pattern, the male Issei rates were lower regarding ischaemic heart and cerebrovascular diseases. Concerning stomach and lung cancer, there was no statistical difference. The female Issei rates were lower for lung cancer and ischaemic heart diseases. Regarding diabetes and cerebrovascular diseases, no significant difference among rates was detected. CONCLUSIONS: The results obtained make it possible to assert a deviation in the Issei pattern of mortality from that of their country of origin (Japan) and a perseptible approximation to the pattern of their new homeland (Paraná). Such observations suggest the influence of socio-cultural factors, mainly dietary habits, on their morbi-mortality.
Keywords