Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

CONSEQUÊNCIAS DO DESABASTECIMENTO DE IMATINIBE NO TRATAMENTO DA LEUCEMIA MIELOIDE CRÔNICA NO SUS: EXPERIÊNCIA DE UM ÚNICO CENTRO

  • LB Sacilotto,
  • JT Enaud,
  • GO Duarte,
  • GD Amarante,
  • S Medina,
  • F Pericole,
  • C Souza,
  • KBB Pagnano

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S952

Abstract

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Objetivos: Avaliar os impactos da interrupção do tratamento com imatinibe (IM) durante um período desabastecimento do medicamento em pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC). Materiais e métodos: Estudo retrospectivo, observacional. Foram avaliados pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) de um único centro, tratados no Sistema Único de Saúde (SUS) com imatinibe. De dezembro de 2021 a março de 2022 houve desabastecimento nacional de IM no SUS. Foi realizado levantamento de dados do prontuário médico e dos registros da farmácia da instituição, onde constam as quantidades liberadas de medicação por período. Foram coletados dados sobre o tempo de suspensão ou redução da dose do IM, o status da resposta molecular determinado por RT-PCR quantitativo para BCR::ABL1 (PCR-q) antes da falta da medicação e após, para avaliar perda da resposta molecular maior (RMM) e necessidade de troca de terapia. Resultados: Foram avaliados 107 pacientes com LMC, com mediana de idade de 61 anos (26-87), sendo 61,7% do sexo masculino. Em dez/2021 os pacientes estavam em uso de IM 600 mg (11,2%), 400mg (75,7%), 300 mg (5,6%) e 200 mg (5,6%) e 86% estava com RMM/RM4.0/RM4.5. Houve falta de medicação para 76% dos pacientes. A mediana do período sem medicação foi de 53,5 dias (0-118), sendo que 26/93 (28%) perderam a RMM após o período sem imatinibe e, destes, 24/26 (92%) recuperaram a RMM após a volta da medicação. Doze pacientes trocaram de tratamento por resistência (2), falta de imatinibe (4) e intolerância (5). Tratamento atual da LMC: Imatinibe 83,2%, Dasatinibe 6,5%, Asciminibe 0,1%, Nilotinibe 0,1%, descontinuação da terapia 8,4% – destes, 75% participam de estudo de suspensão. Houve três óbitos não relacionados a LMC (câncer de pâncreas, pneumonia e embolia pulmonar). Não houve nesse período transformação da LMC para fases avançadas. Discussão: A adesão ao tratamento é fundamental para a obtenção da resposta ótima e evitar progressão da doença. O estudo mostrou que a falta de IM no período de desabastecimento levou à perda de RMM em um terço dos pacientes, com necessidade de troca de medicação por resistência em 3 pacientes e troca de terapia em outros casos que talvez tivessem tido boa resposta ao imatinibe. Conclusão: Interrupções não programadas na terapia com inibidores de tirosina quinase devem ser evitadas pois levam a falha de obtenção ou perda da RMM e colocam em risco a estabilidade da resposta, com risco de resistência. Os pacientes que não perderam RMM provavelmente estavam com resposta mais profunda e há mais tempo em tratamento e tiveram rápida recuperação da resposta.