Revista de Estudos Literários da UEMS - REVELL (Aug 2024)
O Fruto Estranho de Bernardo Kucinski
Abstract
Narrar traumas causados pela violência de Estado não é tarefa simples, e a dificuldade é certamente maior em sociedades que não levaram os perpetradores ao banco dos réus. Este é o desafio que Bernardo Kucinski enfrenta ao escrever K., romance em que o conteúdo autobiográfico serve como substância para uma investigação das violações dos direitos humanos cometidos pela ditadura civil-militar brasileira. Lançando mão de ferramentas das teorias da autoficção e da literatura de testemunho, este artigo propõe uma interpretação da forma adotada em K.. Por justapor não apenas vozes diferentes, mas também gêneros de discurso variados, o autor cria uma narrativa que se posiciona deliberadamente entre a ficção e a realidade, resistindo, assim, a uma qualificação específica que paute sua leitura. A hipótese postulada é a de que Kucinski faça uma opção estética que visa endereçar as feridas ainda abertas dos crimes (ainda pendentes de julgamento) do Estado brasileiro.