Revista Brasileira de Saúde Ocupacional ()

Pressão por produção e produção de riscos: a “maratona” perigosa do corte manual da cana-de-açúcar

  • Rodolfo Andrade de Gouveia Vilela,
  • Erivelton Fontana de Laat,
  • Verônica Gronau Luz,
  • Alessandro José Nunes da Silva,
  • Mara Alice Conti Takahashi

DOI
https://doi.org/10.1590/0303-7657000075413
Journal volume & issue
Vol. 40, no. 131
pp. 30 – 48

Abstract

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Introdução: o setor sucroalcooleiro vem apresentando franca expansão no país nos últimos anos, contando com cerca de 400 usinas processadoras, mais de 1 mil indústrias de suporte e gerando 1 milhão de empregos diretos. Objetivo: compreender, no trabalho dos cortadores de cana-de-açúcar, os determinantes organizacionais que intensificam a carga de trabalho e afetam a saúde dos trabalhadores. Métodos: utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho, integrada com a avaliação de aspectos fisiológicos e ambientais. Foram avaliados 40 trabalhadores de uma turma de cortadores escolhida por conveniência. A sobrecarga térmica foi monitorada, bem como a frequência cardíaca e a produção diária de cada trabalhador. Resultados: o corte manual da cana durou em média 8 horas diárias de trabalho, com ritmos intensos, alta frequência de movimentos repetitivos e exigências posturais inadequadas, associadas a condições insalubres. Conclusão: o efeito nocivo das variáveis fisiológicas e do aumento da carga cardiovascular foi demonstrado. O ritmo de trabalho é acelerado por medidas gerenciais e organizacionais, com destaque para o pagamento por produção, responsável pelo aumento do desgaste físico dos trabalhadores, ultrapassando seus limites fisiológicos. Recomenda-se, dentre outras medidas, a alteração na forma de remuneração do trabalho no corte manual de cana.

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