Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
AVALIAÇÃO VASCULAR DE MEMBROS INFERIORES EM PACIENTES COM COVID-19 LONGO
Abstract
A síndrome pós-COVID-19 é definida por sintomas persistentes e/ou complicações tardias pelo vírus SARS-CoV2 após 90 dias da infecção aguda. É uma importante afecção de saúde pública pois impacta a qualidade de vida e produtividade de cerca de 65 milhões de pessoas no mundo. Objetivo: Avaliar a presença de complicações vasculares nos Membros Inferiores (MMII) em pacientes com COVID-19 de longa duração. Material e métodos: Estudo transversal de indivíduos com idade ≥18 anos previamente internados por COVID-19. Os pacientes foram recrutados de 12/07/2022 a 31/07/2024 no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, excluindo-se indivíduos com uso prévio de anticoagulantes e doenças terminais. Foram realizadas duas visitas presenciais com hematologista e uma telefônica (V1, V2 e V3, respectivamente em 0, 3 e 6 meses após a inclusão). Foi solicitado ultrassonografia com doppler, venoso ou arterial e venoso, para pacientes com sintomas sugestivos de alteração vascular. Resultados: 428 pacientes foram atendidos nas visitas médicas. 131 pacientes (30,6%) apresentaram sinais ou sintomas sugestivos de eventos trombóticos como dor, edema e hiperemia em MMII em alguma das visitas. Até o momento foram realizados 88 exames (67,1%), sendo 83 venosos e 5 arteriais e venosos. 48/88 (54,5%) voluntários foram do sexo feminino. A mediana e IQR de idade dos participantes foi de 58 (50‒66,5) anos. Em nossa casuística não identificamos pacientes com trombose venosa profunda (TVP) recente ou tromboflebite e 18 (20,4%) dos exames foram normais. Notadamente, alterações relevantes foram encontradas em 5/88 (5,68%) dos voluntários: 3 TVP antiga em veias femoral comum, poplítea e fibular proximal ou 2 Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP). Nestes pacientes, foram identificadas comorbidades como insuficiência cardíaca congestiva (20%), doença arterial coronariana (20%), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) (100%), diabetes (DM) (20%), tabagismo (20%), câncer de tireoide (20%) e TVP prévia (20%). Os achados vasculares mais prevalentes encontrados foram refluxo proximal e desordem venosa crônica ou microvarizes em 48 indivíduos (54,5%). Discussão: Este estudo mostra a importância de monitorar complicações vasculares em MMII em pacientes com COVID-19 de longa duração. O risco para desenvolvimento de TVP é elevado até 90 dias após a infecção aguda por SARS-CoV2, o que justifica a tromboprofilaxia em casos selecionados. Apesar de uma proporção significativa de pacientes apresentar sinais ou sintomas sugestivos de eventos trombóticos, identificamos baixa prevalência de alterações vasculares clinicamente importantes. No entanto, notamos que a frequência de TVP maior do que na população em geral (0,06%). Os fatores de risco para TVP incluem imobilização prolongada, cirurgias, histórico de trombose, câncer, trombofilias, gravidez e pós-parto, uso de hormônios, doenças crônicas, obesidade, tabagismo e idade avançada. A frequência de DAOP varia dependendo da faixa etária e dos fatores de risco. A prevalência geral de DAOP é de 3%‒10%, porém aumenta para 15%‒20% em pessoas com mais de 70 anos. A DAOP é mais comum em fumantes e indivíduos com DM e HAS. Conclusões: Embora a maioria dos exames não tenha identificado TVP recente, as alterações vasculares encontradas indicam a necessidade de acompanhamento contínuo e intervenções adequadas. Futuros estudos longitudinais são essenciais para entender melhor a progressão das complicações vasculares com pacientes com COVID Longo.