Ambivalências (Jun 2024)

A criatividade do vivenciar

  • Tim Ingold

DOI
https://doi.org/10.21665/2318-3888.v12n23p305
Journal volume & issue
Vol. 12, no. 23
pp. 305 – 322

Abstract

Read online

A criatividade é geralmente retratada como um fator X responsável pela geração espontânea do absolutamente novo. No entanto, a obsessão pela novidade implica uma atenção aos produtos finais e uma atribuição retrospectiva das suas formas a ideias sem precedentes na mente dos indivíduos, ignorando os potenciais geradores de forma das relações e processos em que as pessoas e coisas surgem e se desenvolvem. Nesses processos, espera-se tipicamente que o aprendiz copie as obras dos grandes mestres do passado. No entanto, mesmo seguindo um roteiro ou uma partitura, cada praticante tem de improvisar o seu próprio caminho através do conjunto de tarefas que a performance implica. Com exemplos da música, da caligrafia e da confecção de rendas, mostro que as fontes da criatividade não estão na cabeça das pessoas, mas em seu envolvimento em um mundo em formação. Nesse tipo de criatividade, mais vivenciada que realizada, a imaginação não é tanto a capacidade de apresentar novas ideias, mas o impulso aspiracional de uma vida que não apenas se vive, mas se conduz. Para onde ela é conduzida, no entanto, não é dado de antemão. Abrindo-se ao desconhecido, se expondo, a imaginação conduz não pela maestria, mas pela submissão. Assim, a criatividade do vivenciar, da ação sem agência, é a criatividade da própria vida.

Keywords