Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

LINFOMA DE HODGKIN E TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR: RELATO DE CASO E DESAFIO DIAGNÓSTICO

  • LLASM Correia,
  • BB Arnold,
  • ALC Gaspar,
  • RO Coelho,
  • BB Cal,
  • ME Pelicer,
  • MAC Rodrigues,
  • LN Melo,
  • TSP Marcondes,
  • RD Gaiolla

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S213

Abstract

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Introdução: O Linfoma de Hodgkin (LH) caracteriza-se histologicamente pela presença de raras células neoplásicas em meio a abundante infiltrado inflamatório. Este achado reflete os principais mecanismos envolvidos na sua fisiopatologia, como secreção elevada de citocinas no microambiente tumoral (ex., Il-10, TGF-β) e modulação da resposta celular, com inibição de células T citotóxicas e estímulo de células T regulatórias. Tais alterações favorecem o escape imune tumoral, mas levam a prejuízo na resposta imune adaptativa aumentando o risco de infecções oportunistas. Objetivo: Relatar diagnóstico simultâneo incomum de LH e Tuberculose Extrapulmonar (TB). Relato: Mulher, 65 anos, previamente hígida, há 4 meses evoluindo com rebaixamento no nível de consciência, confusão mental, desorientação, parestesia, hiporexia e síndrome consumptiva. À admissão, notada anasarca, sarcopenia, esplenomegalia discreta e linfonodos (LN) inguinais bilaterais palpáveis, de até 1 cm; pancitopenia e reação leucoeritroblástica ao esfregaço de sangue periférico. Às tomografias: adenomegalias retroperitoneais e lesões nodulares hipodensas em baço e fígado. Encéfalo sem alterações. Mielograma com parênquima preservado qualitativamente, sem dispoese, estroma reativo, predomínio histiocitário; à Biópsia de Medula Óssea (MO), 3 granulomas epitelioides, Bacilos de Koch em moderada quantidade e coloração de Ziehl-Neelsen positiva, consistente com TB. Líquor e sorologias negativos. Optado por core-biopsy de LN inguinal para diagnóstico diferencial: LH clássico. Iniciado esquema RIPE e após 10 dias, visto prurido intenso atribuído ao LH, refratário a sintomáticos, optou-se por iniciar quimioterapia com esquema AVD (Doxorrubicina, Vimblastina e Dacarbazina), sem Bleomicina devido à idade. Pela Neurologia, após excluídas outras etiologias, os sintomas neurológicos foram interpretados como síndrome paraneoplásica, em recuperação progressiva com o tratamento do LH. Discussão: TB possui alta incidência e significativa morbimortalidade no Brasil (80 mil casos novos/ano, sendo 5,5 mil óbitos). Imunossuprimidos podem apresentar clínica inespecífica e formas atípicas da infecção, como extrapulmonar, inclusive que mimetizam e se sobrepõem a Doenças Linfoproliferativas - sendo essencial adequado estudo anatomopatológico. Nos diagnósticos simultâneos de TB à outra condição, prioriza-se iniciar tratamento para o bacilo (esquema RIPE) por 2-4 semanas e, depois, abordar a outra patologia envolvida, embora no contexto de neoplasias com indicação de quimioterapia (QT) o intervalo ideal não está bem estabelecido na literatura. Iniciamos QT precocemente pela gravidade sintomatológica associada ao LH, com resposta clínica favorável e sem toxicidade adicional. Deve-se atentar ao correto estadiamento do câncer para seu tratamento otimizado, visto diagnósticos sobrepostos trazerem esse desafio adicional. Ressalta-se a manifestação paraneoplásica neurológica da paciente, rara no LH, com neuropatia sensitivo-motora e paraparesia, uma vez que as manifestações neurológicas mais descritas são a degeneração cerebelar e a encefalite límbica. Conclusão: O duplo diagnóstico relatado se fez possível pela alta suspeição e investigação de múltiplos sítios (MO e linfonodo). Algo que deve ser considerado na prática clínica, sobretudo diante de casos atípicos como este, permitindo tratamento adequado precoce e melhor desfecho clínico.