Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

APLASIA PURA DE SÉRIE VERMELHA POR PARVOVÍRUS B19 EM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA APÓS TERAPIA DE INDUÇÃO

  • TV Lourenço,
  • LPG Gomes,
  • RG Silva,
  • SS Custodio,
  • TG Teixeira,
  • CRC Pires,
  • IF Martins,
  • IGC Silveira,
  • FL Nogueira,
  • ABF Glória

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S143 – S144

Abstract

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Introdução: Parvovírus B19 é um vírus de DNA fita simples que tem como alvo principal células de alto índice mitótico, principalmente os progenitores eritroides da medula óssea. Sua transmissão ocorre por meio de contato próximo entre pessoas, por fômites, secreção respiratória e/ou saliva. As apresentações clínicas associadas à infecção pelo parvovírus B19 variam amplamente, de benignas a fatais, e dependem da idade e do estado hematológico e imunológico do indivíduo afetado. As cinco síndromes clássicas associadas à infecção pelo parvovírus B19 são eritema infeccioso, artropatia, infecção fetal, crise aplástica e, em imunocomprometidos, aplasia pura de série vermelha. Relato de caso: Paciente do sexo masculino, 27 anos, diagnosticado em outubro de 2023 com leucemia mieloide aguda de risco citogenético favorável (CBF-MYH11,FLT3-ITD detectado). Recebeu tratamento de indução com esquema composto por citarabina e daunorrubicina (“7+3”) e obteve remissão completa. À admissão para primeiro ciclo de consolidação, exames laboratoriais evidenciaram anemia grave microcítica e hipocrômica (hb 6,1 g/dL,VCM 78), hipoproliferativa (reticulócitos de 0,03%), sem ferropenia e sem sinais de hemólise apesar de Coombs direto. Encontrava-se afebril, sem rash cutâneo. Mielograma demonstrou hipoplasia isolada da série eritrocítica, com índice granulocítico/ eritroidede 96. Não havia aumento de blastos. Biópsia de medula óssea com celularidade normal para idade, com série eritrocítica extremamente hipocelular. Em ambos, observava-se proeritroblastos (e-caderina positiva e glicoforina negativa) gigantes com inclusões nucleares proeminentes e vacuolizações citoplasmáticas, característicos da infecção peloparvovírus B19. Foi realizada investigação sorológica, com IgG eIgM, inicialmente negativos, mas com soroconversão em nova amostra após 5 semanas. Paciente recebeu tratamento de suporte com transfusão de hemácias. Houve lenta recuperação da série eritrocítica, o que postergou o início da fase de consolidação em um mês. Foi submetido a dois ciclos de consolidação e completa, no momento, oito meses em remissão. Discussão: apesar de mais frequentemente associado ao eritema infeccioso em crianças e adolescentes, o parvovírus B19, em hospedeiros imunocomprometidos, incluindo portadores de neoplasias hematológicas em tratamento, está associado a manifestações clínicas distintas, que podem resultar de infecção primária ou de reativação viral. Tais manifestações podem incluir rash cutâneo na fase precoce, citopenias na fase tardia e falência orgânica. O quadro infeccioso pode se confundir com recidiva da doença hematológica ou toxicidade ao tratamento, sendo necessário alto índice de suspeição para o diagnóstico. Conclusão: A infecção por parvovírus B19 pode causar aplasia pura de série vermelha em pacientes imunocomprometidos, como no caso relatado, onde houve, inclusive, atraso no tratamento da LMA. É necessário alta suspeição para seu diagnóstico, tanto suspeita clínica, quanto morfológica. É crucial, também, enfatizar práticas corretas de higiene e controle de infecção a fim de prevenir transmissões virais.