Jornal de Assistência Farmacêutica e Farmacoeconomia (Feb 2023)

Acesso aos antivirais de ação direta Sofosbuvir, Simeprevir e Daclatasvir para o tratamento de Hepatite C Crônica no Sistema Único de Saúde

  • Mayra Braga Lemos,
  • Milene Rangel da Costa,
  • Rosimary Terezinha de Almeida

DOI
https://doi.org/10.22563/2525-7323.2019.v4.s1.p.8
Journal volume & issue
Vol. 4, no. s.1

Abstract

Read online

Introdução: A hepatite C crônica (HCC) é um problema de saúde pública e a expansão do acesso ao tratamento com antivirais de ação direta (DAAs) é uma das metas propostas pela Organização Mundial da Saúde para reverter o quadro até 2030. No mundo, apenas 20% dos pacientes com HCC são diagnosticados e 7,4% iniciam o tratamento adequado. No Brasil, em 2014, a prevalência estimada de HCC foi de 1.450.000. A assistência a estes pacientes é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e inclui os medicamentos necessários ao tratamento. Em 2015, os DAAs (sofosbuvir, simeprevir e daclatasvir) passaram a ser fornecidos gratuitamente a todos os pacientes elegíveis, revolucionando o tratamento da HCC no país por consistir em terapia livre de interferon. A expectativa inicial era fornecer 30 mil tratamentos no primeiro ano. Objetivos: Investigar o acesso dos pacientes com HCC à nova terapia com DAAs desde a incorporação no SUS em junho de 2015 até dezembro de 2017. Métodos: Trata-se de estudo observacional transversal que utilizou dados do mundo real. O número de pacientes com HCC tratados com os DAAs sofosbuvir e/ou simeprevir e/ou daclatasvir foram obtidos a partir da base de dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS. A população elegível aos DAAs foi calculada a partir de dados epidemiológicos, considerando-se as indicações de tratamento preconizadas no protocolo clínico e diretrizes terapêuticas de manejo da Hepatite C do Ministério da Saúde de 2015, que incluíam grau de fibrose hepática Metavir F3 e F4 e co-infectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), independentemente do grau de fibrose hepática. Acesso foi definido como a proporção de pacientes tratados com DAAs frente à população elegível. A manipulação e análise de dados foram realizadas usando o software IBM SPSS versão 22. Resultados: Entre 2015 e 2017, 34.291 (52,2%) dos pacientes com HCC em tratamento receberam DAAs. Em 2015, apenas 2,3% dos pacientes elegíveis no Brasil receberam tratamento com os DAAs. Considerando as regiões geográficas brasileiras, os acessos foram iguais a 1,3% no Sul; 1,9% no Sudeste; 4,6% no Nordeste; 8,3% no Centro-Oeste; e 9,4% no Norte. Em 2016, o acesso aos DAAs aumentou para 21,9% no Brasil, sendo iguais a 18,1%, 20,8%, 30%, 36,9% e 54% no Sul, Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, respectivamente. Em 2017, houve uma redução no acesso ao tratamento com DAAs em todo o país, principalmente no Centro-Oeste e Norte (redução em 21% e 14%, respectivamente). Neste ano, cerca de 13,6%, 15,5%, 15,9%, 21,9% e 39,6% dos pacientes elegíveis aos DAAs receberam tratamento adequado no Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, respectivamente. Conclusão: O acesso à terapia com DAAs no SUS foi heterogêneo entre as regiões, sendo maior para os anos de 2016 e 2017. Sul e Sudeste apresentaram valores mais baixos de acesso durante o período analisado, e o Norte, valores mais altos. O total de tratamentos fornecido foi inferior ao inicialmente estimado.