Revista de Saúde Pública (Dec 1994)

A esterilização de mulheres de baixa renda em região metropolitana do sudeste do Brasil e fatores ligados à sua prevalência Female sterilization among low income women in a metropolitan region of southeastern Brazil and factors related to its prevalence

  • Elisabeth Meloni Vieira

DOI
https://doi.org/10.1590/S0034-89101994000600008
Journal volume & issue
Vol. 28, no. 6
pp. 440 – 448

Abstract

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Estudo realizado na região metropolitana de São Paulo, Brasil, entre março e julho de 1992, entre 3.149 mulheres de baixa renda com idade entre 15 e 49 anos, mostrou que 21,8% estavam esterilizadas. Entre as mulheres unidas, 29,2% estavam esterilizadas e 34,4% usavam a pílula. Quatrocentos e sete mulheres esterilizadas abaixo dos 40 anos, que haviam se submetido à cirurgia há pelo menos um ano antes da data da entrevista, foram perguntadas sobre sua história reprodutiva, uso prévio de métodos anticoncepcionais, o processo de decisão para esterilizar-se, o acesso à esterilização e à adaptação após o procedimento. Os resultados mostraram que mesmo para as mulheres de baixa renda o acesso à esterilização é regulado pelo pagamento ao médico. A baixa qualidade e cobertura das atividades de planejamento familiar do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, assim como a ausência de regulamentação, está provavelmente contribuindo para a escolha da esterilização feminina por mulheres jovens. A forma que a esterilização tem sido realizada fere preceitos éticos. O estudo mostra que a irreversibilidade do procedimento não foi adequadamente entendida por quase 40% das mulheres esterilizadas. Discute-se a aceitabilidade da esterilização como resultado de uma estratégia social complexa com o envolvimento de vários setores da sociedade brasileira aliada à necessidade de regulação da fertilidade das mulheres. A necessidade de regular e controlar o procedimento também é discutida. A regulamentação criaria condições mais justas de acesso à esterilização para as mulheres de baixa renda e poderia salvaguardar aspectos éticos na sua escolha.A survey carried out in the metropolitan region of S. Paulo between March and July, 1992, shows that of 3,149 low income women aged from 15 to 49, 21.8% had been sterilized. Of those women living in marital union 29.2% had been sterilized and 34.4% were on the pill. Four hundred and seven sterilized women under 40 years old who underwent sterilization at least one year before the interview were asked about their reproductive life, the previous use of contraception, the decision-making process regarding their sterilization, the acess to the operation and their adaptation after the operation. The results show that acess to sterilization is obtained by means of payment to the doctor even in the case of low income women. The lack of regulation of sterilization and the insuficient provision of family planning methods by the Women's Health Comprehensive Programme are probably encouraging young women to opt for sterilization. The provision of sterilization presents ethical problems. The study shows that the irreversibility of the procedure was not understood by almost 40% of the women sterilized. The acceptability of sterilization as a result of a complex social strategy involving various sectors of Brazilian society associated with the need for the control of fertility felt by women are discussed. The need to regulate and control the procedure is discussed. The regulation of sterilization would creat fairer acess to sterilization and could safeguard the ethical aspects of its choice.

Keywords