Linguagem em Foco (Aug 2019)
TECNOFOBIA, ECOFEMINISMO: UM PROTESTO VELADO EM “VERDE, VERDE…” DE JOSÉ FERNANDES
Abstract
Na segunda metade do séc. XX o Brasil não possuía condições básicas de vida para a maioria da população, resultando em cidades com crescimento desordenado e um sentimento de incredulidade nas políticas progressistas do Estado. Somando-se a tal situação, inicia-se na década de 60 a Ditadura Militar, que almejava o desenvolvimento do país através das inovações tecnológicas, favorecendo a industrialização das grandes cidades. A rigidez da censura e o temor provocado pelo militarismo levaram escritores a camuflar suas opiniões, criando um protesto velado. Por ser um gênero desvalorizado e marginalizado no Brasil, a Ficção Científica (FC) serviu de palco para a expressão da insatisfação popular. Embora a Ditadura objetivasse o desenvolvimento tecnológico, havia um sentimento na população de que a tecnologia agravava a divisão social (GINWAY, 2005) e contribuía para uma exploração desenfreada de recursos naturais, trazendo mais malefícios que benefícios - resultando em uma visão negativa dos avanços tecnológicos (a tecnofobia). Como forma de oposição, muitas obras de FC das décadas de 60 a 90 passaram a defender a natureza, além de destacarem o papel da mulher como fecunda e protetora, associando-a a um cenário naturalista. A presente pesquisa objetiva analisar o conto “Verde, Verde...” de José Fernandes (1990), focando no discurso de rejeição à Ditadura Militar bem como nos elementos ligados ao natural/nacional e como isto colaborou para o “protesto velado” dos escritores de FC. Para tanto, utiliza-se como base teórica M. Elizabeth Ginway (2005), Isaac Asimov (2005) e Maria Helena Moreira Alves (2005).