Revista Brasileira de Linguística Aplicada (Sep 2012)
Willemsen Antropofágico: o criador da literatura brasileira na Holanda Anthropophagical Willemsen: the creator of Brazilian literature in the Netherlands
Abstract
Na leitura dos posfácios do tradutor August Willemsen presentes nas obras de alguns dos maiores escritores brasileiros publicados na Holanda, fica clara a noção de fidelidade que orienta seu trabalho de tradução. Willemsen reafirma sua promessa de fidelidade, seja quando justifica o que faz, seja quando confessa sua impotência em repetir o que julga ser o sentido do original. Neste texto, que faz parte de um projeto de pesquisa de pós-doutoramento, minha proposta é introduzir uma reflexão no campo da Linguística Aplicada Crítica em torno do tema da fidelidade, conceito tão caro aos Estudos da Tradução e que, invariavelmente, envolve as questões da língua em seus vários funcionamentos: semântico, fonológico, sintático e cultural, ou seja, em todos os aspectos do uso da língua e de seus atributos linguísticos e culturais. No caso específico do trabalho de Willemsen, a reflexão aborda a promessa de fidelidade do tradutor, também declarada em entrevistas e ensaios, e as traduções criativas que, de fato, produz. A tese que anima essa abordagem é de que, mesmo declarando sua fidelidade aos autores que ama e traduz, considerando-se a visão tradicional de fidelidade como repetição da totalidade do sentido, Willemsen e seus protocolos tradutórios estabelecem com a língua da tradução os mesmos mecanismos criativos que o autor estabeleceu com a língua do original. Nesse sentido, as traduções criativas de Willemsen sinalizam para uma noção de fidelidade que foge à expectativa de apagamento autoral do tradutor. Avançando na ousadia da análise, não é difícil articular a proposta tradutória de Willemsen com o conceito de transcriação - concepção de tradução criativa antropofágica elaborada por Haroldo de Campos.August Willemsen's afterwords in the translated works of the most well known Brazilian authors published in the Netherlands, most generally, present his promises of fidelity as he accounts for his work of reading and translating. With the same assurance, he confesses his inability to repeat the significations he ascertains in the original texts. In this paper, which is part of a pos-doctoral project, my proposal is to introduce a discussion from the perspective of Critical Applied Linguistic of the old age concept of fidelity which involves aspects of language in its several linguistic operations: semantic, phonological, syntactic and cultural, that is, all the aspects of language use and and its cultural and grammatical attributes. My primary intention is to confront the translator's promises, stated in interviews, essays and papers, and the creative translations he, in fact, produces. The thesis that orientates this critical reading is that, considering the traditional notion of fidelity as repetition of the totality of signification and despite his genuine intention to be faithful to the authors he loves and translates, Willemsen and his translation protocols battle to reproduce, in the target language, similar creative mechanisms at work in the source language. The creative translations proposed by August Willemsen anticipate a revolutionary sense of fidelity which eludes the expectation of authorial transparency nurtured by tradition. Willemsen's translation project is not unfamiliar with the concept of transcriation - the creative translation concept fostered by Haroldo de Campos's "anthropophagic theory".
Keywords