Revista Brasileira de Cartografia (Jun 2019)
OS PRIMÓRDIOS DA OCUPAÇÃO DE MINAS GERAIS EM MAPAS
Abstract
O trabalho apresenta os primórdios da evolução da ocupação do território mineiro por meio de mapas históricos do período entre, aproximadamente, 1680 e 1780. Esta ocupação teve duas vertentes: uma mais antiga do norte para o sul ao longo do Rio São Francisco, essencialmente agrária, e a outra, em sentido contrário, a partir de São Paulo, inicialmente para preação de índios, posteriormente para exploração de ouro. No mapa da América Meridional do italiano Coronelli, a Província de S. Cruz ou Brasile aparece dividida em 12 capitanias e é ocupada, em sua maior parte, pela bacia do Rio São Francisco e, entre os afl uentes, aparece o Rio das Velhas (Gaibuig) até a Serra de Sabarabuçu (Sarabassu). Com a descoberta das minas de ouro em Minas Gerais a partir dos anos 90 do séc. XVII surgiu a necessidade de mapas mais detalhados para fi ns administrativos. Entre estes se destaca a obra do Pe. Jacobo Cocleo, que cobre o Brasil oriental atual, com destaque para o Rio São Francisco. Estão assinaladas muitas das lendárias serras, alvos da exploração mineral, as recém descobertas minas e os principais caminhos que levavam até elas. Nas duas margens do Rio São Francisco, da barra do Rio das Velhas à jusante, estão indicadas inúmeras fazendas, registro do processo de ocupação agrária. No início do século XVIII, com a corrida ao ouro, também são envolvidos engenheiros militares nos levantamentos cartográfi cos. O Mapa das Minas de Ouro e São Paulo e costa do mar que lhe pretence representa não só o território da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, mas todo litoral e interior do Brasil entre o sul da Bahia e Santa Catarina, registrando os primeiros núcleos urbanos mineiros. Até esta época, os cartógrafos tinham se baseado, essencialmente, em roteiros de sertanistas e bandeirantes, às vezes acrescentando observações próprias. Os “Padres Matemáticos” Diogo Soares e Domingos Capassi procederam a uma profunda renovação da cartografi a no Brasil, baseando seus mapas em observações astronômicas de latitudes e longitudes, lançando assim, os alicerces para uma cartografi a científi ca. O principal trabalho destes cartógrafos em Minas Gerais consiste em um conjunto de quatro mapas que cobrem o território das Minas desde a Zona da Mata, no sul, até as Minas Novas e o Rio Jequitinhonha, no norte, entre 16º 30’S e 21º 30’S. Foram cartografados, praticamente, todos os arraiais e vilas da região, registrando a maior concentração no entorno de Vila Rica. O declínio da produção de ouro e diamantes revitalizou a importância da cartografi a em Minas Gerais. Destacam-se os mapas de José Joaquim da Rocha e a cartografi a da Demarcação Diamantina. Observa-se nos velhos mapas a transformação do espaço incógnito para uma entidade política e sua ocupação condicionada à ocorrência de ouro e diamantes.