Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

ALOIMUNIZAÇÃO ANTI-E APÓS TRANSFUSÃO DE CONCENTRADOS DE PLAQUETAS EM PACIENTE CANDIDATO A TRANSPLANTE CARDÍACO: RELATO DE CASO

  • MC Moraes,
  • JPL Alencar,
  • BCA Amorim,
  • PDS Teixeira,
  • NRS Remigio

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S761 – S762

Abstract

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Introdução: A aloimunização eritrocitária RhD após transfusão de plaquetas é descrita em literatura com uma incidência de 0%‒7% e já possui protocolos de conduta definidos. Contudo, poucos casos são descritos em relação a aloimunização não RhD por plaqueta, principalmente em casos de pacientes candidatos a transplante cardíaco. Sabendo que a sensibilização por HLA e ABO é um importante fator de prognóstico para esse grupo de pacientes, faz-se necessário avaliar o impacto da presença de anticorpos não RhD na evolução do paciente ou rejeição do enxerto. Objetivo: Relatar um caso de aloimunização anti-E após transfusão de concentrados de plaquetas e possíveis repercussões para o paciente pré-transplante cardíaco. Caso: Paciente do sexo masculino, 64 anos, com diagnóstico de insuficiência cardíaca congestiva secundária à cardiomiopatia isquêmica, em fila de espera de transplante cardíaco. O paciente deu entrada no serviço de hemoterapia em 15/05/23, sem histórico de transfusão prévia. Ao primeiro teste imunohematológico apresentou tipagem sanguínea A RhD positivo (C+, c+, E-, e+, K-) e Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) negativa. No período de 15/05 à 26/05/23, com intervalo de 2‒6 dias, foram transfundidos 18 hemocomponentes, sendo 2 unidades de Concentrados de Hemácias Filtradas e Irradiadas (CHFI) (CCee e Ccee); 2 Concentrados de Plaquetas por Aférese filtradas e Irradiadas (CPADI) (CcEe e ccEe) e 14 concentrados de plaquetas randômicas filtradas e irradiadas (CPDI) (1 ccee, 1 ccEe, 5 CCee, 3 CcEe, 2 Ccee, 2 ccEE), totalizando 8 unidades RhE incompatíveis. Nesse período os testes imunohematológicos foram repetidos em 24/05/2023, de acordo com a necessidade do atendimento, obtendo os mesmos resultados. Contudo, em 03/06/23, observou-se PAI positiva, com identificação de aloanticorpo anti-E. O paciente realizou o transplante cardíaco em 19/07/23, sem necessidade de transfusão de hemocomponentes. Discussão: No Grupo GSH, a fenotipagem Rh e Kell para pacientes candidatos à transplante de órgãos sólidos é estabelecida como protocolo de rotina para transfusão de concentrados de hemácias. Contudo, essa regra não se aplica aos concentrados de plaquetas, que são transfundidos respeitando apenas a tipagem ABO e RhD. No banco de sangue de Brasília, todos os doadores são fenotipados para Rh e Kell, tornando possível a análise dos fenótipos dos CPDI transfundidos e trazendo a possibilidade de serem os potenciais responsáveis pela sensibilização do paciente. No caso estudado, destaca-se o rápido desenvolvimento do anticorpo, 19 dias após a primeira transfusão, associado com o aumento da intensidade no Painel de Reatividade a Antígenos (PRA), indicando alta reatividade no paciente em questão. Não encontramos na literatura referências ao impacto da presença de anticorpos não RhD na evolução do paciente e sobrevida do enxerto pós-transplante cardíaco. Conclusão: A aloimunização não RhD após transfusão de plaquetas está descrita na literatura, apesar de poucos relatos. Contudo, não há estudos que evidenciam o impacto referente a presença desses anticorpos em pacientes submetidos a transplante cardíaco. O acompanhamento destes pacientes e o estudo de casos semelhante, permitirá definir a necessidade de intervenção, visando a profilaxia da aloimunização não RhD por plaquetas para esses pacientes.