Raído (Dec 2018)
As flores do mal dos contos de Murilo Rubião
Abstract
Os personagens de Murilo Rubião, nos contos “A casa do girassol vermelho” (1947), “A flor de vidro” (1953) e “Petúnia” (1974), são vítimas de opressão inexplicável e incapazes de modificar a própria vida. A linguagem empregada nessas narrativas labirínticas é simples e concisa, o que aumenta a inverossimilhança, mas, paradoxalmente, gera uma perplexidade convincente, cabendo ao leitor interpretar os múltiplos significados sugeridos. Nesses contos, a flor – metáfora canônica da literatura – assume papel fundamental, desencadeando ou sumarizando os fatos da narrativa: um girassol vermelho, uma flor azul, petúnias e rosas pretas colaboram, assim, na estruturação do fantástico e assemelham-se às flores de Charles Baudelaire (1821-1867), uma vez que revelam a angústia da ausência, da violência e da morte. Entretanto, os olhos do contista brasileiro não são como os do poeta francês, que, em As flores do mal (1857), vibram nervosamente diante da catástrofe humana, clamando por entidades rejeitadas; pelo contrário, a seriedade das situações revelam um narrador cético e incapaz de sorrir diante do inexplicável.
Keywords