Revista de Saúde Pública (Apr 2009)
Fatores associados à violência por parceiro íntimo em mulheres brasileiras Factores asociados a la violencia por pareja íntima en mujeres brasileras Factors associated with intimate partner violence against Brazilian women
Abstract
OBJETIVO: Estimar a prevalência e os fatores associados à violência física e/ou sexual por parceiro íntimo em diferentes contextos socioculturais. MÉTODOS: Estudo transversal, participante do WHO Multi-country Study on Women's Health and Domestic Violence against women, com amostra representativa de mulheres no município de São Paulo e Zona da Mata de Pernambuco, região com normas mais tradicionais de gênero. Foram entrevistadas no domicílio 940 mulheres de São Paulo e 1.188 da Zona da Mata, entre 2000-1, com idade entre 15 a 49 anos que tiveram parceria afetivo-sexual com homens alguma vez na vida. Foram construídos três conjuntos de fatores, correspondentes a blocos hierarquicamente ordenados: características sociodemográficas, familiares e aspectos referentes à autonomia/submissão feminina. Utilizou-se regressão logística hierárquica na análise dos fatores associados à violência por parceiro íntimo em cada local. RESULTADOS: Encontrou-se prevalência de 28,9% em São Paulo (IC 95% 26,0;31,8) e 36,9% (IC 95% 34,1;39,6) na Zona da Mata. Escolaridade até oito anos, violência física conjugal entre os pais da mulher, abuso sexual na infância, cinco ou mais gestações e problemas com a bebida mostraram-se associados à violência por parceiro íntimo em ambos locais. Autonomia financeira da mulher, união informal, idade e consentimento na primeira relação sexual mostraram-se associadas a maiores taxas apenas na Zona da Mata. As características socioeconômicas associadas no primeiro bloco foram mediadas por outros fatores no modelo final. CONCLUSÕES: Os achados mostram a relativização dos fatores socioeconômicos diante de outros, em especial os representantes de atributos de gênero. Nas duas localidades estudadas foram encontradas diferenças socioculturais que se refletiram nos fatores associados.OBJETIVO: Estimar la prevalencia y los factores asociados a la violencia física y/o sexual por pareja íntima en diferentes contextos socioculturales. MÉTODOS: Estudio transversal, participante del WHO Multi-country Study on Women's Health and Domestic Violence against women, con muestra representativa de mujeres en el municipio de Sao Paulo (Sureste de Brasil) y Zona da Mata de Pernambuco (Noreste de Brasil), región con normas más tradicionales de género. Fueron entrevistadas en el domicilio 940 mujeres de Sao Paulo y 1.188 de la Zona da Mata, entre 2000-1, con edad entre 15 a 49 años, que tuvieron pareja afectiva-sexual con hombres en algún momento de la vida. Fueron construidos tres conjuntos de factores, correspondientes a bloques jerárquicamente ordenados: características sociodemográficas, familiares y aspectos referentes a la autonomía/sumisión femenina. Se utilizó regresión logística jerárquica en el análisis de los factores asociados a la violencia por pareja íntima en cada lugar. RESULTADOS: Se encontró prevalencia de 28,9% en Sao Paulo (IC 95% 26,0;31,8) y 36,9% (IC 95% 34,1;39,6) en la Zona da Mata. Escolaridad hasta ocho años, violencia física conyugal entre los padres de la mujer, abuso sexual en la infancia, cinco o más gestaciones y problemas con la bebida, se mostraron asociados a la violencia por pareja íntima en ambos lugares. Autonomía financiera de la mujer, unión informal, edad y consentimiento en la primera relación sexual, se mostraron asociados con las mayores tasas sólo en la Zona da Mata. Las características socioeconómicas asociadas en el primer bloque fueron mediadas por otros factores en el modelo final. CONCLUSIONES: Los resultados muestran la relatividad de los factores socioeconómicos delante de otros, en especial los representantes de atributos de género. En las dos localidades estudiadas fueron encontradas diferencias socioculturales que se reflejaron en los factores asociados.OBJECTIVE: To estimate the prevalence of physical and/or sexual violence by intimate partners and factors associated with this, in different sociocultural contexts. METHODS: This cross-sectional study formed part of the "WHO Multi-country Study on Women's Health and Domestic Violence against Women". It consisted of representative samples of women from the municipality of São Paulo (Southeastern Brazil) and from the Zona da Mata of Pernambuco (Northeastern Brazil), this latter is a region with more traditional gender norms. Interviews were conducted in the homes of 940 women in São Paulo and 1,188 in the Zona da Mata, in the years 2000-1. The women were aged 15 to 49 years and had all had at least one affective-sexual partnership with a man during their lifetimes. Three sets of factors were constructed, corresponding to hierarchically organized categories: sociodemographic, family and female autonomy/submission characteristics. Hierarchical logistic regression was used to analyze factors associated with intimate partner violence at each location. RESULTS: A prevalence of 28.9% was found in Sao Paulo (95% CI 26.0;31.8) and 36.9% (95% CI 34.1;39.6) in Zona da Mata. Up to eight years of schooling, conjugal physical violence between the women's parents, sexual abuse during childhood, five or more pregnancies and drinking problems were associated with intimate partner violence at both locations. Financial autonomy for the woman, informal partnership, age and consent to the first sexual intercourse were associated with higher rates only in Zona da Mata. The socioeconomic characteristics that presented associations in the first category were mediated by other factors in the final model. CONCLUSIONS: The findings show the relativization of socioeconomic factors in relation to other factors, particularly those representing gender attributes. Sociocultural differences were found between the two locations, and these were reflected in the associated factors.