Viso (Dec 2024)

Contexto e melancolia

  • Otavio Leonidio

DOI
https://doi.org/10.22409/1981-4062/v35i/601
Journal volume & issue
Vol. 18, no. 35
pp. 29 – 68

Abstract

Read online

Há exatos dez anos, a artista carioca Maria Palmeiro exibia na galeria Casamata, localizada no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, uma série de pinturas de grande formato, reunidas sob o sugestivo título “A obra está”. O que Palmeiro apresentava ali, contudo, não era a rigor uma mera exposição de pinturas, mas o estágio atual de uma série de operações distintas e encadeadas, iniciadas um mês antes. Sobre o título que escolheu dar ao trabalho, Palmeiro se restringiu a anotar: “O nome do trabalho, ‘A obra está’, se refere ao estado vacilante da pintura e ao lugar físico que ela ocupa na galeria ou no ateliê”. O presente ensaio – escrito e publicado por ocasião dos dez anos de “A obra está” – trata justamente desse “estado vacilante da pintura” e o “lugar físico que ocupa na galeria ou no ateliê”; faz isso articulando e contrapondo a exposição/performance de Palmeiro a toda uma tradição de obras canônicas, tanto modernas quanto contemporâneas, com destaque para os trabalhos, ações e ideias de Marcel Duchamp, Constantin Brancusi, Le Corbusier, Jackson Pollock, Richard Serra, J. L. Austin, Allan Kaprow e Hal Foster, dentre outros. Essa ênfase em autores masculinos e canônicos não é fortuita: direta ou indiretamente, é a tradição falocêntrica das artes moderna e contemporânea que, como o ensaio procura demonstrar, a ação de Palmeiro confronta e, de modo “desastroso” e “impróprio” (palavras-chave do argumento), põe em xeque.

Keywords