Sağlık Akademisi Kastamonu (Oct 2022)

O IMPACTO DAS EXPERIÊNCIAS ADVERSAS NA INFÂNCIA NA SAÚDE MENTAL E NO COMPORTAMENTO SUICIDÁRIO DE UMA AMOSTRA DA COMUNIDADE DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (CPLP)

  • Henrique Marques Pereira,
  • Daniela Filipa Nunes Silveira

DOI
https://doi.org/10.25279/sak.1137238
Journal volume & issue
Vol. 7, no. Special Issue
pp. 67 – 68

Abstract

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Introdução: As experiências adversas na infância (EAI) são eventos traumáticos que ocorrem durante a infância e podem estar associados a problemas de saúde física e mental ao longo da vida, como por exemplo sintomas depressivos e de ansiedade, ideação e tentativa de suicídio, abuso de substâncias e comportamentos de risco para a saúde. Podem ser classificadas em experiências de abuso (emocional, físico e sexual), ambiente familiar disfuncional (violência doméstica, abuso de substâncias por um membro do agregado familiar, divórcio/separação parental, prisão e doença mental/suicídio de um membro da família) e negligência (física e emocional). A adversidade na infância pode predispor as crianças e os jovens a vários desafios em fases mais avançadas do ciclo vital, perturbando o normal desenvolvimento de tarefas identitárias e de competências de socialização, necessárias para o seu equilíbrio mental, podendo levar à adoção de comportamentos disfuncionais agudos ou crónicos. Neste sentido, avaliar as características psicossociais das pessoas com EAI é uma prioridade, pois são consideradas um grupo de maior risco para os problemas de saúde mental. Dada a escassez de estudos nesta temática na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizou-se a presente pesquisa. Objetivo: O principal objetivo da presente investigação é avaliar o impacto das experiências adversas na infância na saúde mental e comportamentos suicidários de uma amostra de participantes provenientes da CPLP. Método: A amostra é composta por 1006 participantes com idades compreendidas entre os 18 e 80 anos (média=41.76; DP=14.19), dos quais 576 são mulheres (57.3%) e 424 são homens (42.1%). Os dados foram recolhidos online, através de um website construído para o efeito, entre maio e outubro de 2021. Os instrumentos utilizados foram um questionário sociodemográfico; o Brief Symptom Inventory 18 (BSI 18) para avaliar sintomas de somatização, depressão e ansiedade, como medida de funcionamento mental; o Suicidal Behaviors Questionnaire - Revised (SBQ-R) para avaliar os comportamentos suicidários; e o Family Adverse Childhood Experiences Questionnaire para avaliar as EAI. Resultados: As EAI mais reportadas pela amostra foram o abuso emocional (32.7%), a doença mental/suicídio de um membro da família (30.8%) e a negligência emocional (29.9%) e verificou-se uma associação forte entre abuso emocional e abuso físico (r=.678; p<.001). Os residentes do Brasil apresentaram níveis mais elevados de somatização, depressão e ansiedade e de ideação e tentativa de suicídio, tanto ao longo da vida, como no último ano, comparativamente com os residentes em Portugal e nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Contudo, os residentes em Portugal apresentaram maior probabilidade de suicídio no futuro. As EAI demonstraram-se preditoras fortes e significativas de sintomas psicopatológicos e da probabilidade de suicídio no futuro, sendo o abuso emocional (=.125; p<.05) e a negligência emocional (=.148; p<.001) os domínios com maior contributo, respetivamente. Conclusão: Conclui-se que as EAI têm um impacto negativo nos sintomas psicopatológicos e nos comportamentos suicidários da amostra. Estes resultados alertam para a importância do desenvolvimento de políticas de saúde mental e prevenção do suicídio nos países da CPLP, promovendo a sua qualidade de vida e o seu bem-estar.

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