Fronteiras (Jul 2020)
A Colonização Oriental e os processos de reformulação rural em Brandemburgo (séculos XII–XIV)
Abstract
Talvez a mais importante mudança promovida pela Colonização Oriental (Ostsiedlung) tenha sido a difusão e a consolidação do regime senhorial, que transformou a paisagem rural além do Rio Elba. O típico vilório eslavo foi superado pela aldeia planejada, que era mais populosa, mais dependente de cerealicultura, organizada em lotes (mansus) e empregava rotação de campos. A partir da análise de fontes escritas (sobretudo o censual de 1375 a mando do Sacro Imperador Carlos IV e dedocumentos cartoriais compilados no Codex Diplomaticus Brandenburgensis) bem comodos estudos arqueológicos disponíveis na literatura, procuraremos esquadrinhar os doisprincipaisprocessos de transformação do espaço rural em Brandemburgo: a absorção dos vilórios eslavos pelas aldeias cerealíferas alemãs e a reestruturaçãoendógena dos assentamentos eslavos em aldeias cerealíferas de feitio alemão. Nossa hipótese principal é que os assentamentos eslavos cerealíferosforam aqueles que, por suas homologias estruturais,sofreram mais precoce e intensamente as influências da aldeia alemã, promovendo no seu bojo a germanização dos nativos, enquanto os vilórios extrativistas puderam ocupar nichos econômicos onde a hegemonia germânica não se fazia sentir e puderam resistir por mais tempo à aculturação. Uma hipótese secundária é que a aculturação dos eslavos dentro da aldeia alemã foi favorecida por sua presença significativa como cabaneiros, posição social inferior derivada, sobretudo, de limitações materiais para a exploração plena como cerealicultor. Concluímos pela importância de se entender, para o medievo e além, os processos de aculturação no seu vínculo com a resistência camponesa à senhorialização.