Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS COM NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS TRATADOS EM HOSPITAL BRASILEIRO: DADOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS
Abstract
Objetivos: Analisar de forma descritiva e retrospectiva, dados da população de adolescentes e adultos jovens (AYA ) com neoplasias hematológicas, tratados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP - Ribeirão Preto (HCRP). Material e métodos: Através de dados do Registro Hospitalar de Câncer do HCRP, foram analisados prontuários dos pacientes com idade entre 15 e 39 anos que tiveram diagnóstico de câncer no período de 01 de janeiro de 2018 a 31 de dezembro de 2022. Os principais dados analisados foram sexo, idade ao diagnóstico, tipo de tumor, especialidade responsável pelo tratamento, complicações associadas e desfecho. Resultados: Nesse período, foram admitidos 9386 pacientes com câncer no HCRP. Desses, 672 (7,15% do total de casos) preenchiam os critérios de inclusão para o estudo e 157 possuíam neoplasias hematológicas (23% dos casos).Houve o predomínio do sexo masculino de 56% do total de pacientes. Quanto ao tipo de tumor, a maioria (116) teve o diagnóstico de Linfomas (53% Linfoma de Hodgkin e 46% Linfoma não-Hodgkin), 31 pacientes tiveram o diagnóstico de Leucemias (58% Mieloides e 42% de Linfóides), 9 de Mieloma Múltiplo e 1 de Tricoleucemia. A maioria dos pacientes de 15 a 18 anos (80%) foi tratada pela oncopediatria, todos os demais pela hematologia. A taxa de recaída foi de 22%. A mortalidade foi de 19%, devido sobretudo a progressão de doença (46,6% dos casos) e toxicidade ao tratamento (33,3% dos casos). Discussão: AYA com câncer possuem características clínicas, psicossociais e biológicas similares que devem ser consideradas na escolha do tratamento e seguimento a longo prazo. A análise dos dados do nosso estudo revela informações compatíveis com a literatura sobre o tema. A estimativa do SEER (Surveillance, Epidemiology and End Results Program) para 2024 é em torno de 84.100 casos de câncer em AYA , correspondendo a 4,2% do total. Em nosso estudo, o número total de pacientes atendidos nesta faixa etária foi de 7,1%. Essa diferença pode se justificar pelo fato de nos referirmos a um único hospital, com característica de atendimento especializado. Considerando as neoplasias hematológicas, dados do SEER coletados entre 2000 e 2011 apontam linfomas e leucemias entre os dez cânceres mais frequentes na população AYA, ocupando respectivamente o quarto e décimo lugar. Em nosso estudo, o linfoma foi a neoplasia hematológica mais encontrada na população AYA, e as leucemias ocuparam o décimo lugar. Estudo europeu realizado em 29 países entre 2000-2013 mostra taxas de sobrevida variando entre 71 e 75,4% para leucemias, e 88,1 a 92,1% para linfomas, a depender da faixa etária.Nossas taxas de sobrevida são discretamente superiores para leucemia (84%) e inferiores para linfomas (82%). Muito se estuda sobre toxicidade ao tratamento em AYA , além do acesso desses pacientes a protocolos de pesquisa, fato relacionado a melhores taxas de sobrevida. Conclusão: A despeito da literatura quase sempre referir-se a estudos de base populacional, nosso estudo realizado em um hospital universitário mostra dados coerentes e próximos dos já registrados, e oferece uma perspectiva sobre a epidemiologia da população AYA com neoplasias hematológicas no Brasil. Futuros estudos no Brasil e na América Latina, são necessários para conhecer e tratar essa população de modo individualizado, buscando melhores taxas de cura e sobrevida.