Memorias do Instituto Oswaldo Cruz (Dec 1943)

Sôbre o Trypanosoma conorrhini, hemoparasito do rato transmitido pelo Triatoma rubrofasciata: presença do vector infectado na cidade do Rio de Janeiro

  • Emmanuel Dias,
  • C. A. Campos Seabra

DOI
https://doi.org/10.1590/S0074-02761943000600006
Journal volume & issue
Vol. 39, no. 3
pp. 301 – 329

Abstract

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Os autores, após historiar a desccberta do Trypanosoma conorrhini (DONOVAN, 1909) (sinonimia Crithidia conorrhini DONOVAN, 1909, Trypanosoma boy lei LAFONT, 1912) no inseto transmissor e no hospedeiro vertebrado, o Rattus rattus diardi, fazem um estudo sumário do seu vector intermediário, o barbeiro cosmopolita Triatoma rubrofasciata (DE GEER, 1773) . Em seguida, referem a captura, no centro da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, de um exemplar adulto dêste barbeiro parasitado por flagelados que foram identificados ao Trypanosoma conorrhini, fato êste pela primeira vez verificado no Novo Mundo. Certas formas evolutivas dêste parasito no inseto são muito semelhantes às do Schizotrypanum cruzi, mas os tripanosomas metacíclicos apresentam alguns caractéres morfológicos que permitem seu reconhecimento: os mais notáveis são o pequeno tamanho e a colocação do núcleo muito para trás, bem junto ao blefaroplasto. São dadas as medidas de 100 tripanosomas metaciclicos do T. conorrhini e de Schizotrypanum, cujo comprimento total médio foi, respectivamente, 13.88 u e 19.85 u. Nas seguintes espécies de barbeiro foi facilmente obtida a evolução do Trypanosoma conorrhini: Triatoma infestans, Triatoma vitticeps, Rhodnius prolixus e Panstrongylus megistus. Por inoculação de triatomas infectados foi obtida a transmissão do T. conorrhini ao camondongo branco, ao rato e ao macaco rhesus. As infecções foram muito fracas, custando-se a ver o tripanosoma no sangue, a fresco. Em gotas espêssas êle é encontrado com mais facilidade, mas o método de escôlha para verificação da sua presença no sangue dos animais é o xenodiagnóstico. Nesta prova o Triatoma infestans foi empregado com os resultados mais favoráveis. Por êste processo foi observada a infecção inaparente de um camondongo até 53 dias depois da inoculação. A forma sanguícola do T. conorrhini é um tripanosoma ttpico, de grande dimensões (40-60u), de extremidade posterior muito alongada e pontuda, membrana ondulante ampla e com largas pregas, blefaroplasto subcentral; em muitos indivíduos é notável uma estrutura particular, junto e à frente do blefaroplasto. Poucas horas depois de inoculados com as dejeções, os flagelados passam para a circulação, transformando-se em 3-4 dias nos grandes tripanosomas que acabam de ser descritos. O número de parasitos depende do número de flagelados inoculados. Não se conhece o processo de multiplicação do T. conorrhini no vertebrado, nunca tendo sido observados tripanosomas em via de divisão no sangue nem formas proliferativas nos tecidos. As sub-inoculações (de animal a animal) em geral não passam da primeira (MORISHITA, 1935). Tentativas até agora realizadas por outros pesquisadores no sentido de cultivar o T. conorrhini a partir do sangue de animais infectados, têm sido negativas. Por enquanto as pesquisas tendentes a determinar o hospedeiro vertebrado do parasito no Rio de Janeiro limitam-se a aplicação do xenodiagnós-tico em cinco ratos do Morro de Santo Antônio, cujo resultado...In the present paper details are given on the discovery of Trypanosoma conorrhini (DONOVAN, 1909) (syn. Crithidia conorrhini DONOVAN, 1909; Trypanosoma boy lei LAFONT, 1912) in its insect vector, Triatoma rubrofasciata (DE GEER, 1773) and in its vertebrate host, the rat (Rattus rattus diardi). The universal geographic distribution of Triatoma rubrofasciata is recorded. The writers report the finding in Rio de Janeiro, Brazil, of an adult example of T. rubrofasciata infected with flagellates that are referable to Trypanosoma conorrhini. The close resemblance of certain forms of this flagellate to the insectan forms of Schizotrypanum cruzi is emphasized. Metacyclic trypanosome forms of each species, however, may be distinguished; those of Trypanosoma conorrhini are shorter and their nucleus is closer to the parabasal body than in Schizotrypanum cruzi. Data concerning the measures of 100 metacyclic forms of each species are given: The mean total length of T. conorrhini was 13.88U and that of Schizotrypanum was 19.85µ. The experimental evolution of T. conorrhini has been easily obtained in Triatoma infestans, Triatoma vitticeps, Rhodnius prolixus and Panstrongylus megistus. By the intraperitoneal inoculation of white mouse, rat and Rhesus monkey light infection were produced. Parasites were rarely seen in fresh blood preparations, but could be easily demonstrated in the peripheral blood of apparently recovered mice untill 53 days after the inoculation, by "xenodiagnosis". The blood form of Trypanosoma conorrhini is a large trypanosome with long and pointed posterior end, a sub-central parabasal body with a particular pot-shaped structure just in front of it, and a wide ondulating membrane. A few hours after the peritoneal inoculation of the gut contents of infected Triatoma rubrofasciata parasites may appear in the blood, where in 3-4-days they reach the large size of the typical trypanosome form. The number of trypanosomes in the peripheral blood depends upon the number of parasites in the inoculum. It is interesting to note that so far division forms of T. conorrhini have never been found in the blood or tissues of infected animals. Sub-inoculation of the blood forms usually do not succeeded beyond the first, and even the first sub-inoculation result in very light infection. Cultures from the infected animal blood have not yet succeded (MORISHITA, 1935). So far Trypanosoma conorrhini appear to be the only species of Trypa-nosoma transmitted by reduviid-bugs; a list is given of trypanosomes which failed to develop in such bugs on experimental conditions.