Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

PANUVEÍTE BILATERAL RELACIONADA A LINFOMA DE HODGKIN: RELATO DE CASO

  • AL Emrich,
  • FP Giacomel,
  • ACSRS Almeida

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S222 – S223

Abstract

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Introdução: O linfoma de Hodgkin é uma neoplasia do sistema linfático que raramente cursa com sintomas oculares. Neste relato, apresentamos um caso raro de panuveíte bilateral relacionada ao Linfoma de Hodgkin, destacando a complexidade diagnóstica e a importância do tratamento adequado. Descrição do caso: Paciente masculino de 30 anos, previamente hígido, apresentou perda de ponderal e adenomegalias difusas, com piora progressiva em dois meses. A biópsia do linfonodo cervical revelou linfoma de Hodgkin, variante esclerose nodular (ALK-, MUM1+, CD15+, CD30+, CD3+), com sorologia positiva para Epstein-Barr. Exames de imagem mostraram linfonodomegalias mediastinais, hilares, axilares, retroperitoneais e inguinais, além de lesão osteolítica mal delimitada no manúbrio esternal, configurando estadiamento IV B. O tratamento com protocolo ABVD foi iniciado sem intercorrências durante o primeiro ciclo. Antes do início do segundo ciclo de quimioterapia, o paciente apresentou hiperemia conjuntival súbita, borramento visual e diminuição da acuidade visual bilateral. Permaneceu internado com equipe de oftalmologia para investigação etiológica de panuveíte. Realizada tomografia de crânio e ressonância magnética de crânio, sem alterações. Sorologias para HIV, VDRL, HTLV, toxoplasmose, citomegalovírus e teste tuberculínico resultaram negativas. O exame de líquor, incluindo imunofenotipagem e pesquisa de herpes-vírus e BAAR, também foi negativo. Paciente foi encaminhado para avaliação reumatológica, que descartou lúpus, doença de Behçet e outras patologias reumatológicas. Assim, diagnosticou-se panuveíte bilateral associada ao linfoma de Hodgkin, por exclusão. O tratamento incluiu colírio de prednisolona tópica (1 gota a cada 6 horas), prednisona (40 mg por 30 dias) e continuação da quimioterapia com protocolo ABVD. Após quatro ciclos de tratamento, houve remissão total dos sintomas. Discussão: a uveíte é a inflamação que envolve o trato uveal (íris, corpo ciliar e a coróide), podendo envolver os tecidos adjacentes como o humor vítreo, retina e nervo óptico. Ocorre frequentemente em associação com outras doenças sistêmicas, imunomediadas ou infeciosas. Em uma revisão de literatura de 30 casos de pacientes com diagnóstico de Linfoma de Hodgkin com manifestações oculares, a uveíte foi o diagnóstico mais prevalente, descrita em 21 pacientes, sendo que em 16 deles foram bilaterais com assimetria da inflamação. De todos estes casos, apenas quatro foram submetidos à biópsia de alguma porção do globo ocular, mas sem identificar invasão direta por malignidade. Os sintomas oculares podem se iniciar até mesmo antes do diagnóstico da doença, o que se torna um desafio diagnóstico ainda maior visto que algumas doenças como tuberculose, doença de Behçet e sarcoidose se tornam diagnósticos diferenciais que podem atrasar o tratamento. Em alguns casos, o uso de corticoide tópicos e/ou sistêmicos e tratamento quimioterápico ajudaram a reduzir a inflamação e recuperar a visão. Conclusão: Embora muito rara, a uveíte pode estar associada ao linfoma de Hodgkin, representando um desafio diagnóstico. A abordagem multidisciplinar e o tratamento rápido com corticosteroides e quimioterapia são cruciais para a remissão completa dos sintomas oculares, destacando a importância de uma avaliação abrangente em pacientes com manifestações oculares atípicas.