Vivência (Apr 2020)

QUANDO A DESTERRITORIALIZAÇÃO VEM DO RIO: A POLUIÇÃO DO RIO GRAMAME NA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MITUAÇU, PB

  • Patrícia dos Santos Pinheiro,
  • Aline Maria Pinto da Paixão

DOI
https://doi.org/10.21680/2238-6009.2019v1n53ID20599
Journal volume & issue
Vol. 1, no. 53

Abstract

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A Bacia do rio Gramame, estado da Paraíba, Brasil, é uma das principais fontes de abastecimento da Grande João Pessoa e também de onde muitos ribeirinhos e quilombolas tiram seu sustento. No entanto, modificações causadas por cargas de poluição no rio Gramame têm se tornado recorrentes e se somam ao cenário brasileiro de inquietante frequência de conflitos e eventos que têm na questão ambiental um importante componente. Essas contaminações, que ocorrem por ao menos quatro décadas no Gramame, possuem origem industrial, agrícola e urbana e causam mudanças nas características do rio. Um dos territórios afetados é a comunidade quilombola de Mituaçu, na área rural do município do Conde (PB). Com terras férteis e protegida por rios, especialmente o Gramame, esse rio é mencionado como tendo criado muitas famílias em Mituaçu: ele “protege” a comunidade dos avanços da cidade; é onde tomavam banho; onde aprenderam a nadar, pescar, andar de barco; muitos moradores lembram que outrora a pesca evitava a fome, ao suprir a comunidade com abundância de caranguejos, peixes e camarões. Diante desse quadro, este artigo procura analisar as ressignificações e adaptações deste território, diante (e apesar) do cenário associado em particular à poluição deste rio. Procuramos descrever, entre práticas criativas e memórias, a conformação de sistemas complexos de conhecimento tradicional que se reinventam tendo em vista as mudanças que experimentaram.