Anuario de Letras Modernas (May 2023)

Camões e Voltaire ou a epopeia na balança do tempo: Historicização e polemização literária (séculos xviii e xix)

  • Paulo Silva Pereira

DOI
https://doi.org/10.22201/ffyl.26833352e.2023.26.1.1899
Journal volume & issue
Vol. 26, no. 1

Abstract

Read online

Numa altura em que se celebram os 450 anos da publicação de Os Lusíadas, pretende-se revisitar a épica camoniana e a sua presença assídua em debates intelectuais dos séculos XVIII e XIX, para além do seu contributo para a afirmação da cultura de língua portuguesa. Para isso, analisaremos testemunhos em que a discussão em torno do(s) modelo(s) da épica se cruza com opiniões veiculadas por Voltaire ou com a apropriação de textos voltairianos por parte de comentadores. O Ensaio Sobre a Poesia Épica, que marca um período em que o autor começava a percorrer os domínios da filosofia e da história, mas sem abandonar a sua atuação como poeta, apresenta material riquíssimo. A primeira versão surgiu durante o exílio na Inglaterra, com o objetivo de preparar o caminho para a publicação de La Henriade. Seguem-se as polémicas, traduções não autorizadas e diferentes versões até que, em 1732, publica a sua própria versão (revista) em francês. Voltaire selecionou oito estudos de caso, enumerando e comparando virtudes e defeitos de cada um deles: Poemas Homéricos, Virgílio, Lucano, Tasso, Trissino, Ercilla, Camões e Milton. No caso de Camões, as críticas devem-se ao facto de misturar divindades clássicas com entidades religiosas e ao uso de ornato estilístico desnecessário. Quanto à Henriade, poema que contou com traduções para português logo a partir do séc. XVIII, sabe-se que influenciou a perceção sobre o que (e como) deveria ser a poesia épica, pelo que não causa estranheza a sua inclusão nestes debates. Do corpus fazem parte textos de F. Xavier de Meneses, J. Agostinho de Macedo, William Julius Mickle, Tomás José de Aquino, J. A. Bezerra de Lima, Morgado de Mateus, entre outros.

Keywords