Brazilian Journal of Infectious Diseases (Jan 2022)

EVOLUÇÃO CLÍNICA DE PACIENTES HIV POSITIVOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA, NO NORDESTE DO BRASIL

  • Lisandra Serra Damasceno,
  • Gabriel Melo Ferraz Pessoa,
  • Allan Carlos Costa Maia,
  • Rebecca Azulay Martins Gondim

Journal volume & issue
Vol. 26
p. 102128

Abstract

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Introdução: Estima-se que metade das internações de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) estão relacionadas a causas não atribuídas ao HIV. No entanto, em países em desenvolvimento, os internamentos de PVHA ocorrem principalmente, por infecções oportunistas. Objetivo: Analisar a evolução de pacientes HIV positivos, internados em um hospital de doenças infecciosas no Nordeste do Brasil. Métodos: Coorte retrospectiva, de pacientes HIV positivos internados na UTI do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), no Estado do Ceará, no período de Janeiro de 2018 a Janeiro de 2019. Os dados foram coletados através da revisão de prontuários, e analisados através do STATA 13.0. O desfecho primário considerado foi a mortalidade. Resultados: No período do estudo, 86 pacientes foram incluídos. A densidade de incidência foi de 3,4 pacientes-dia. A maioria era do sexo masculino (73,3%), e a mediana de idade foi de 38,5 anos [IIQ = 30-49]; 62,8% dos pacientes tiveram o diagnóstico de infecção pelo HIV durante o internamento. As principais disfunções orgânicas na admissão à UTI observadas foram: respiratória (85,9%), neurológica (37,2%) e cardiovascular (10,5%). Em relação ao escore APACHE, foi observada uma mediana de 19,5 pontos [IIQ = 14-24].Os diagnósticos mais frequentemente reportados na admissão foram sepse pulmonar (51,1%), pneumocistose (34,8%) e neurotoxoplasmose (30,2%). Insuficiência renal aguda (29,6%) e diarreia (12,4%) ocorreram como principais complicações na UTI; 43% dos pacientes foram a óbito, enquanto 57% receberam alta. A mediana em dias do tempo de permanência na UTI foi semelhante entre os pacientes que receberam alta e aqueles que foram a óbito (12 vs. 13; p = 0,746), assim como, a mediana da contagem de linfócitos T CD4+ (43 vs. 44 céls/mm3) e de carga viral do HIV (57.091 vs. 88.121 cópias/mm3). Não houve nenhum fator de risco relacionado à mortalidade quando se investigou fatores como comorbidades, disfunções orgânicas, tempo de ventilação mecância, e parâmetros laboratoriais. A sobrevida estimada em 28 dias foi de 40%. Conclusão: Pacientes HIV positivos internados em UTI apresentam alto risco para uma evolução desfavorável, principalmente no contexto do diagnóstico tardio da infecção pelo HIV. A presença de disfunções orgânicas como a respiratória e neurológica, refletem a elevada prevalência de infecções oportunistas nestes pacientes.