Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS NA ERA DOS INIBIDORES DE TIROSINO-QUINASE: SEGUIMENTO DE 20 ANOS

  • GRO Medeiros,
  • ACM Lima,
  • I Menezes,
  • DC Setubal,
  • CBDS Sola,
  • R Marchesini,
  • SK Nabhan,
  • ALV Mion,
  • R Pasquini,
  • VAM Funke

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S546 – S547

Abstract

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Introdução: O surgimento dos Inibidores de Tirosino-Quinase (ITQ), no final da década de 90, revolucionou o tratamento dos pacientes com Leucemia Mieloide Crônica (LMC), impactando diretamente na sobrevida desta população nas últimas duas décadas. A maioria dos pacientes tratados com ITQs obtém respostas moleculares profundas, com estudos demonstrando sobrevida similar à população geral. Todavia, alguns pacientes não atingem resposta adequada devido à falha ao tratamento, tanto pela resistência à medicação quanto pela intolerância aos efeitos colaterais. Para pacientes que falham com ITQs, o Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas (TCTH) continua a ser considerado uma terapia eficaz e potencialmente curativa. No entanto, há poucos dados na literatura sobre os resultados dos transplantes realizados após falha com as terapias-alvo. Objetivo: este estudo visa determinar a Sobrevida Global (SG) de pacientes com LMC submetidos ao TCTH após falha aos ITQs em um centro de referência no Brasil, além de analisar as incidências de recaída, mortalidade não relacionada a recaída e incidência cumulativa de DECH aguda (DECHa) ou DECH crônica (DECHc). Métodos: Estudo retrospectivo, observacional e analítico, realizado a partir de registros de prontuários e base de dados do Serviço de Transplante de Medula Óssea. As curvas de sobrevida foram realizadas usando o método de Kaplan Meier e o teste exato de Fisher foi usado para variáveis categóricas. EZR foi usado para análise estatística. Resultados: Foram avaliados 103 pacientes com diagnóstico de LMC, transplantados no período de janeiro de 2001 a maio de 2021, sendo excluídos os pacientes que não utilizaram ITQs previamente, totalizando 70 pacientes na análise final. A idade mediana foi de 38 anos (10‒60) e a maioria dos pacientes eram do sexo masculino (66%). 29 pacientes estavam em fase crônica antes do transplante, 38 em fase acelerada e 3 em crise blástica. 19 pacientes (27%) tiveram mutações identificadas, 5 pacientes com mutação T315I, 3 com mutação G250E e os demais com mutações diversas. 39 pacientes haviam utilizado ITQ de 2ª geração (56%). Quanto às características relacionadas ao TCTH, em 47% a fonte de células foi sangue periférico, 52% tiveram doador aparentado e 93% receberam condicionamento mieloablativo. A sobrevida mediana foi de 11 anos; sendo SG de 1 ano: 70% (57,8‒79,3), SG 5 anos: 57,7% (45,1‒68,5) e SG 10 anos: 51,4% (38,3 -63,1). A SG estimada em 5 anos não foi diferente para CP1 (60%) versus fases avançadas (45%); p = 0,6. Incidência cumulativa de mortalidade Não Relacionada à Recaída (NRM) em 100 dias: 12,9% (6,3‒21,9) e em 1 ano: 21,4 % (12,7‒31,7). Incidência cumulativa de DECHa em 100 dias: 34,3% (23,4‒45,5) e de DECHc em 1 ano: 34,3% (23,3‒45,5). Incidência cumulativa de DECHc em 2 anos: 35,7% (24,6‒47,0). Em relação às taxas de recaída em 1 ano, a incidência cumulativa de recaída foi de 27,1% (17,3‒38) e em 2 anos 34,3 (23,4‒45,5). Conclusão: O estudo teve como objetivo principal a avaliação da sobrevida, sendo encontrada uma taxa superior a 50% em 5 e 10 anos, corroborando o potencial do TCTH no cenário de falha terapêutica. Além disso, foi observada incidência de DECHa, DECHc, recaída e NRM em geral similares a estudos anteriores. Ressalta-se que a busca de doadores deve ser realizada precocemente, assim que observada a resistência a ITQ de 2ª geração, considerando que os melhores resultados são alcançados quando os pacientes ainda estão em fase crônica.