Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

EXPRESSÃO DE PODOPLANINA POR CITOMETRIA DE FLUXO IDENTIFICA COM PRECISÃO PACIENTES COM LEUCEMIA PROMIELOCÍTICA AO DIAGNÓSTICO

  • CMA Saraiva,
  • CRP Moraes,
  • BKL Duarte,
  • PM Campos,
  • GB Oliveira,
  • STO Saad,
  • EV Paula

Journal volume & issue
Vol. 45
p. S284

Abstract

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Introdução: Leucemia promielocítica aguda (LPA) é uma emergência que exige diagnóstico e tratamento imediatos. A suspeita se baseia na morfologia, podendo ser corroborada por imunofenotipagem, até que dados moleculares a confirmem. Embora citologia e imunofenotipagem sejam importantes, sua precisão é limitada por variação morfológica dos blastos e questões técnicas inerentes à citometria de fluxo. Nesse contexto, novos parâmetros que possam distinguir LPA das outras formas de leucemia mieloide aguda (LMA) conferem agilidade ao diagnóstico. Recentemente, Lavallée e cols. demonstraram expressão aberrante de podoplanina (PDPN) por blastos de LPA, com potencial uso como biomarcador. Objetivos: Validar de forma prospectiva e independente se expressão de PDPN em blastos medida por citometria de fluxo pode contribuir para diferenciar LPA de outras LMAs. Exploramos a associação de PDPN com dados clínicos e laboratoriais. Material e métodos: Incluídos pacientes consecutivos diagnosticados com LPA em nosso hospital de 2020 a 2023. Os critérios de exclusão foram instabilidade hemodinâmica ou recusa. A expressão de PDPN foi medida por citometria de fluxo com citômetro BD FACSCanto II™. Realizada análise de acordo com o EuroFlow, com painel que inclui CD45, CD33, CD34, MPO, CD117, CD13, HLA-DR, bem como anticorpo anti-PDPN (PE Anti-Human Podoplanin Antibody – Catalog #337004 - BioLegend). Linfócitos foram usados como controle interno negativo. Dados foram analisados com software Infinicyt™ e relatados como porcentagem de células PDPN+ e de acordo com a intensidade média de fluorescência (IMF). Pacientes com LMA diagnosticada no mesmo período, pareados por idade, gênero e número de blastos periféricos foram comparados. Dados clínicos e laboratoriais foram obtidos do prontuário. Estudo aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa; todos os participantes forneceram consentimento informado por escrito. Resultados: 19 pacientes com LPA confirmada foram comparados com 18 com LMA. Não houve diferença na hemoglobina (p = 0,72), leucócitos (p = 0,14) e sobrevida em 30 dias (p = 0,27). A expressão de PDPN em blastos foi significativamente maior em LPA versus LMA não LPA, considerando-se porcentagem de células PDPN+ ou IMF. Como variável categórica, expressão de PDPN foi fortemente associada ao diagnóstico de LPA (teste Qui-quadrado= 19,169; p < 0,001). Estimamos a precisão diagnóstica da PDPN por citometria de fluxo por análise ROC, com área sob a curva ROC maior que 0,9 para ambas as estratégias analíticas. A expressão de PDPN foi inversamente correlacionada com plaquetometria (R = -0,47; p = 0,003) e fibrinogênio (R = -0,51; p = 0,001), mas não com outros dados como TP e TTPa. Não se observou associação de PDPN com as variáveis clínicas disponíveis. Discussão: PDPN é uma glicoproteína transmembrana encontrada fisiologicamente em podócitos renais, células alveolares tipo 1 e células endoteliais linfáticas. Seu ligante conhecido é o CLEC-2, presente na superfície das plaquetas. Patologicamente, evidenciou-se sua expressão em determinados tumores, como glioblastoma. Lavallée e cols. demonstraram que blastos de LPA expressam PDPN e que ela induz agregação plaquetária in vitro e trombocitopenia e sangramento em modelos animais. Conclusão: Nosso estudo demonstrou que a medição da expressão de PDPN por citometria de fluxo pode discriminar LPA de outras LMAs. Estudos adicionais são necessários para explorar a associação clínica da expressão de PDPN em coortes maiores e independentes.