Musica Theorica (Dec 2024)
Arnold Schoenberg e o paradoxo de sua Klavierstück Op. 33a
Abstract
Este artigo explora a aparente e paradoxal contradição presente na Klavierstück Op. 33a de Arnold Schoenberg, na qual uma forma musical inerentemente típica do tonalismo clássico — a forma sonata — foi utilizada para organizar uma composição feita em uma linguagem dodecafônica que de certo modo é “alienígena” à tonalidade tradicional. O texto discute em que capacidade as linguagens harmônicas da tonalidade tradicional e do método dodecafônico criado por Schoenberg são estranhas entre si, investigando, por meio do uso da teoria da Angústia da Influência de Harold Bloom (2002), o processo composicional daquela obra enquanto uma ação de desleitura e de apropriação poética do classicismo musical que resulta na escritura musical específica utilizada por Schoenberg. As considerações acerca dos processos de influência propostos por Bloom — nas figuras de suas seis proporções revisionárias, clinamen, tessera, kenosis, askesis, daemonização e apophrades — são tecidas e ilustradas ao longo de uma decupagem em detalhes da estrutura formal e dos procedimentos harmônicos da Klavierstück Op. 33a, análise esta que é realizada com o uso do ferramental da Set-Theory norte-americana aliada às teorias de Edmond Costère (1954) sobre a atratividade polar entre notas, escoliada ainda por meio de seleções de observações teóricas sobre a forma sonata clássica e seus componentes estruturais feitas pelo próprio Schoenberg (1996) em sua atividade pedagógica como teórico musical. O artigo argumenta e procura demonstrar que a elucidação do paradoxo daquela obra esbarra na confirmação da magnitude da importância histórica mantida por Schoenberg e por sua obra musical e teórica, com o desvelamento do lugar único e especial que ele conseguiu circunscrever para si mesmo dentro da história da música por meio de um hábil e engenhoso comando das influências que recebeu de seus predecessores.