Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
MESILATO DE IMATINIB INDUZINDO DERRAME PLEURAL BILATERAL E DERRAME PERICÁRDICO
Abstract
Introdução: A leucemia mieloide crônica (LMC) é uma patologia marcada pela síntese de uma tirosino-quinase BCR-ABL constitucionalmente ativa resultante de uma translocação balanceada entre os cromossomos 9 e 22. O surgimento dos inibidores da tirosina quinase levou à grande melhora no prognóstico dos pacientes com LMC. O imatinibe foi introduzido como primeira linha de tratamento há cerca de 20 anos e, apesar de sua eficácia, uma parcela dos pacientes desenvolve resistência ou apresenta efeitos adversos ao seu uso. A ocorrência de derrame pleural e pericárdico é mais descrita com o uso de dasatinibe, sendo rara com o uso do imatinibe e nilotinibe. Devido à raridade, relata-se o caso de uma paciente de 19 anos em uso de imatinib, que apresentou efusões pleural e pericárdica relacionadas à terapia. Relato do caso: H.P.B, sexo feminino, 16 anos, apresentou-se ao ambulatório de hematologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná por queixa de dor no peito. A paciente tinha sido recém-diagnosticada com Leucemia Mieloide Crônica (LMC) t(9,22), tendo aberto o quadro cerca de 40 dias antes, com dor torácica importante, leucocitose 300.000 e esplenomegalia com baço a 17 cm do rebordo costal esquerdo. Na época em tratamento com Hidroxiuréia 1 comprimido VO por dia. Ao exame, apresentou-se em bom estado geral, corada, hidratada, eupneica. O exame abdominal mostrou um abdome flácido, indolor à palpação. O baço foi palpável a 3 cm do rebordo costal esquerdo. O restante do exame segmentar não mostrou alterações. Os exames laboratorias da admissão mostravam-se normais, com 5820 leucócitos, exceto por plaquetopenia (68.000) e anemia (hemoglobina 10,3; reticulócitos 3,2). A medicação foi mantida e a paciente foi orientada a manter seguimento ambulatorial. Foi instituído o tratamento com Gleevec® 400 mg/dia. A paciente foi acompanhada e observaram-se apenas efeitos colaterais aceitáveis. 1 ano e meio depois, apresentava resposta citogenética completa porém resposta molecular sub-ótima. Aumentou-se a dose de Gleevec® para 600 mg/dia. No ano seguinte, a paciente apresentou-se ao PA do Hospital de Clínicas com queixa de dispneia e dor torácica ventilatório dependente, com piora nos últimos cinco dias, associado a tosse seca. Ao exame, observou-se murmúrio vesicular diminuído bilateralmente em bases, bulhas cardíacas hipofonéticas, abdome ascítico e edema de membros inferiores abaixo dos joelhos. Foram solicitados um ecocardiograma, uma ecografia de abdome, um raio x de tórax e a proteinúria de 24 horas, que demonstraram derrame pericárdico importante associado a tamponamento cardíaco. A paciente foi, então, submetida a janela pericárdica. Seis dias após o ocorrido a paciente foi novamente admitida no PA para reavaliação, sendo, então, internada e submetida a toracocentese com aspiração de 600ml e, em seguida 500ml, de líquido serossanguinolento, sendo internada e submetida a drenagem torácica fechada, com drenagem de 2450 ml no total de 9 dias de internamento. Recebeu alta com Prednisona 60 mg/dia, Keflin e sem Gleevec®. No acompanhamento, solicitaram-se FAN e anti-DPN, ambos negativos. No acompanhamento, observou-se leucocitose de 15.520 e optou-se pela introdução do nilotinibe para controle da doença. Optou-se por acompanhamento ambulatorial com reavaliações frequentes. Conclusão: Como o imatinib pode ter um potencial de retenção líquida em espaços viscerais, sugere-se monitoramento atento dos pacientes tratados com imatinib em altas doses.