Millenium (Feb 2016)

Outra Forma de Olhar a Mãe Imigrante numa Situação de Transição

  • Emília Coutinho,
  • Maria Vitória Parreira

Journal volume & issue
Vol. 0, no. 40

Abstract

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A situação de transição que a mulher vivencia, a diversidade cultural, os direitos de acessibilidade reduzidos dos imigrantes ao sistema de saúde, entre outros, são situações que colocam quer utentes quer profissionais de saúde numa situação de vulnerabilidade nos cuidados. Neste contexto, delinearam-se os seguintes objectivos: Compreender os significados que emergem do processo de transição, na situação de maternidade; Compreender como a mulher imigrante perspectiva os cuidados face ao seu projecto de maternidade (gravidez, parto e puerpério); Desocultar crenças e valores inerentes à mãe imigrante numa situação de transição de vida; Identificar de que forma o processo de cuidados difere do sistema do seu país de origem. Estudo qualitativo, exploratório descritivo. Realizado a partir da seguinte questão de partida: Que significados emergem do processo de transição na mulher / mãe imigrante que vivencia um processo de maternidade? Os critérios de inclusão dos participantes foram: Residir em Portugal há pelo menos 3 meses; Ter vivenciado ou estar a vivenciar um processo de maternidade; Ter sido vigiada durante a gravidez no sistema de saúde português e aceitar participar no estudo. Amostra não probabilística, intencional (12 mães imigrantes). Amostragem determinada pelo princípio de saturação dos dados. Instrumento de colheita de dados: a entrevista semi-estruturada, com recurso a gravação áudio com obtenção prévia do consentimento informado. Análise dos dados efectuada por análise de conteúdo, feita codificação aberta, codificação axial e codificação selectiva, com ajuda do software NUD*IST 8.0 ® Emergiram 8 categorias: Comunicação difícil; existência de divergências no processo de cuidar; mitos e crenças divergentes; práticas culturais divergentes; informação desajustada; descriminação; acessibilidade dificultada às consultas; gratuitidade do sistema de saúde. As conclusões emergentes apontam para a inexistência, em Portugal, de rituais inerentes aos cuidados que conflituem com a sua cultura de origem. A maior barreira com que estes imigrantes se depararam foi a comunicação. Na cultura muçulmana, ressalta a especificidade da questão de género: o homem não deverá ser cuidador da mulher. Na perspectiva dos participantes, os cuidados de saúde tendem a ser culturalmente congruentes. Exemplo: no Uzbequistão os cuidados prestados não diferem dos do nosso país, à excepção da tecnologia utilizada que referem ser “superior”. Os resultados deste estudo têm implicações para a prática, na medida em que ao desocultar os significados sobre os cuidados, as crenças e valores, os profissionais de saúde adquirem conhecimentos específicos sobre a etnoculturalidade, o que lhes permite evitar atitudes negativas e comportamentos de etnocentrismo, ajudando assim a mulher/casal numa situação de transição para a parentalidade, já que a falta de respeito pela cultura pode originar um choque cultural.