Trabalhos em Linguística Aplicada (Nov 2016)
O componente cultural no ensino e aprendizagem de línguas: desenvolvimento histórico e perspectivas na contemporaneidade
Abstract
Inadequações e problemas na comunicação intercultural têm sido frequentemente tratados como produtos das diferenças entre comportamentos e visões de mundo de pessoas que pertencem a diferentes culturas. E, assim, o componente cultural no ensino de línguas tem muitas vezes enfocado prescrições comportamentais e informações sobre o outro, geralmente envoltos em uma visão de compreensão e ausência de conflitos, baseada na convicção de que o objetivo do ensino de línguas é busca da felicidade na comunicação (KRAMSCH, 1993), recusando-se a ser ideológico e minimizando a problematização. Ainda, vale ressaltar que as diferenças e problemas apontados nem sempre são muito diferentes daqueles encontrados na comunicação entre pessoas que têm a mesma língua e cultura nacionais. A fim de contribuir com a discussão sobre o componente cultural no ensino e aprendizagem de línguas, partimos de uma apresentação do desenvolvimento histórico do conceito de cultura, desde sua etimologia, perpassado seu desdobramento semântico e conceitual nas Ciências Sociais e Humanas (principalmente na Antropologia, Sociologia e Linguística), para então adentrarmos as teorias da Linguística Aplicada ao ensino de línguas estrangeiras. Nesse sentido, discutimos as abordagens para o ensino de cultura na educação linguística, apontando para o fato de que os avanços teóricos não correspondem ao que geralmente é trazido nos livros didáticos e práticas de sala de aula em relação à cultura devido à tendência em apresentar informações sobre a cultura do outro, por meio de comparações relativas a identidades nacionais e étnicas que veem a diferença cultural sob uma perspectiva objetivista. Ao questionarmos o pensamento que influenciou e continua a influenciar o papel do componente cultural no ensino e aprendizagem de línguas, buscamos também apontar caminhos para sua inserção na educação linguística na atualidade de modo a enfocar a (inter-) subjetividade dos aprendizes como participantes na diversidade e a emergência da cultura, vista de forma dinâmica, na interação com o outro.