Educação e Pesquisa (Dec 2009)

Crianças com câncer e o atendimento educacional nos ambientes hospitalar e escolar Children with cancer and the educational service in hospitals and schools

  • Carmem Lúcia Artioli Rolim,
  • Maria Cecília Rafael de Góes

DOI
https://doi.org/10.1590/S1517-97022009000300007
Journal volume & issue
Vol. 35, no. 3
pp. 509 – 523

Abstract

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Este trabalho aborda o atendimento educacional oferecido a crianças com câncer, que precisam afastar-se da escola por períodos longos ou recorrentes em razão do tratamento. O sistema escolar não tem respondido às necessidades desses alunos e são ainda escassas as iniciativas de classe hospitalar e atendimento domiciliar. Para discutir o problema, apresentamos uma pesquisa referenciada na abordagem histórico-cultural e realizada no âmbito de um programa educacional num hospital de câncer infantil. O objetivo foi analisar a significação que as crianças atribuíam ao aprender e sua receptividade a experiências de aprendizagem. Durante o programa, elas mostravam um claro desejo de participar das atividades, mas manifestavam uma grande insatisfação com o retorno à escola. Além de se confrontarem com preconceitos pela doença, não recebiam apoio para alcançar o ritmo da classe e geralmente cumpriam as lições mediante meras cópias. As avaliações eram feitas sem exigências e a promoção, facilitada. Assim, o direito a aprender era tornado um direito a não aprender. Essa mescla de despreparo e condescendência da escola leva ao desperdício do potencial e da vitalidade das crianças e produz uma dor adicional, um senso de inferioridade. Há divergências nessa área quanto à atenção a ser dada às atividades instrucionais, já que é essencial minimizar o sofrimento da criança. Os presentes dados indicam que o conhecimento escolar não deve ser secundarizado, pois ele preserva vínculos com esferas da cultura e, sobretudo, constitui uma fonte de vontade de viver pelo seu valor de futuro projetado.This work deals with the issue of the educational service offered to children with cancer that need to stay away from school for prolonged or recurrent periods of time as a consequence of their treatments. The school system has not been able to respond adequately to the needs of these students, and the initiatives of hospital classes and home schooling are still rare. To put this theme in discussion, we present a study based on a historical-cultural approach carried out within an educational program at a hospital for children with cancer. The objective here was to analyze the meaning attributed by children to the act of learning, and their receptiveness to learning experiences. During the program they showed a clear desire to take part in the activities, but demonstrated strong dissatisfaction with their return to school. In addition to facing prejudice against their health condition, they received no support to help them to catch up with their class, and usually ended up completing their school tasks by mere copying. Assessments were non-demanding, and promotion facilitated. Thus, their right to learn was turned into a right not to learn. The combination of lack of preparation with condescendence from the school leads to the potential and vitality of these children being put to waste, producing additional pain and a sense of inferiority. There are controversies around the issue of how much attention should be given to instructional activities, since it is essential to minimize the child's suffering. The results presented here suggest that the school knowledge should not be placed in a secondary position because it preserves ties with the spheres of culture and, above all, it constitutes a source of will to live in view of its value as a projected future.

Keywords