Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
ALOIMUNIZAÇÃO ERITROCITÁRIA EM PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE LEUCEMIA AGUDA EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO
Abstract
Objetivo: A aloimunização eritrocitária é complicação que pode ocorrer nos pacientes politransfundidos e pode ser evitada através de fenotipagem de antígenos eritrocitários. Os pacientes portadores de leucemias agudas (LAs) dependem de intenso suporte transfusional durante seu tratamento. No entanto, a melhor estratégia na seleção de concentrados de hemácias não foi definida. No nosso Hospital a fenotipagem estendida não é prática padronizada para esses pacientes e a avaliação da aloimunização ocorrida com essa estratégia nos últimos anos poderia ajudar a guiar a melhor conduta. O objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência de aloimunização eritrocitária em pacientes com diagnóstico de leucemia aguda. Materiais e métodos: Trata-se de estudo observacional, retrospectivo, a partir de consulta ao prontuário eletrônico e ao Hemovida dos pacientes atendidos nesse Hospital Universitário (HU) com diagnóstico de LAs entre 2000 e 2023 com o objetivo de quantificar e analisar a aloimunização eritrocitária. Resultados: Foram incluídos 228 pacientes. Desses, 161 (70,6%) tiveram diagnóstico de LMA, 19 (8,3%) LMA M3 e 48 (21,1%) de LLA. Sendo 142 do sexo masculino (62,3%) e 86 do sexo feminino. A mediana de idade foi 48 anos. O total de concentrados de hemácias transfundidos foi de 3851 com mediana de 14 CH por paciente e 2841 doses de plaquetas, com mediana de 10 doses por paciente. Dos 228 pacientes, apenas 7 foram aloimunizados (12 aloanticorpos no total), sendo 3 desses portadores prévios de síndrome mielodisplásica (SMD) transformada e 4 mulheres. A taxa de prevalência de aloimunização (paciente com anticorpo(s)/pacientes avaliados) foi de 3%, sendo a densidade de aloimunização (número de aloanticorpos/CHs transfundidos) de somente 0,31%. Discussão: A fenotipagem estendida para RH e Kell em pacientes com diagnóstico de SMD ou hemoglobinopatias é recomendação amplamente aceita e validada para a profilaxia de aloimunização. No entanto, no subgrupo das neoplasias hematológicas essa prática é ainda questionada. Embora sejam pacientes submetidos a intensa carga transfusional, constituem pacientes imunossuprimidos pela doença de base e pelo tratamento imposto, o que poderia reduzir a capacidade da formação de aloanticorpos. A baixa taxa de prevalência de aloimunização observada com densidade de aloimunização ainda menor sugerem que a fenotipagem estendida, prática de custo elevado e com risco de atrasar a transfusão em pacientes potencialmente graves, não se demonstre custo-efetiva, principalmente naqueles com diagnóstico de LLA ou LMA de novo. Apesar da população ser majoritariamente masculina, a maior parte dos aloimunizados foram mulheres. O subgrupo dos pacientes com SMD transformada, embora representasse menos de 5% dos pacientes estudados, foi responsável por 42% dos pacientes aloimunizados, ratificando a informação de que os pacientes com diagnóstico de leucemias agudas de novo estão sob muito baixo risco para aloimunização. Por fim, dos aloanticorpos encontrados, 11 dos 12 eram das famílias RH e Kell, demonstrando que, assim como ocorre em outras populações, esses são os antígenos mais imunogênicos. Conclusão: Os pacientes com leucemia aguda de novo, apesar de politransfundidos, apresentam baixa prevalência de aloimunização, sendo a fenotipagem eritrocitária estendida estratégia pouco custo-efetiva para prevenção de aloimunização nesses casos.