Classica, Revista Brasileira de Estudos Clássicos (Nov 2014)
Abordagens mitológicas na iconografia funerária da cerâmica ática (510-450 A.C.): repensando a periodização
Abstract
Este artigo tem por objetivo estudar a iconografia funerária registrada sobre a cerâmica ática, e, em especial, a produção do que chamamos fase intermediária (510 – 450a.C.), que tem despertado menos atenção dos estudiosos, mais voltados à compreensão do período anterior, dos alabastros e lutróforos de figuras negras do século VI, precipuamente com cenas de “velório”, ou do período posterior, dos lécitos brancos prolícromos com cena de visita ao túmulo. Aponto que, através de abordagens mitológicas, de Musas, Sereias e Eros, esta fase, que durou de duas a três gerações de pintores, apresenta uma unidade cultural, no sentido da emergência de visões alternativas da morte, ao retirar a atenção dos rituais da pólis e da família. É neste contexto que se destaca a iconografia destes personagens mitológicos, cuja ligação com a música determina a sua ligação com a morte. A ambivalência das Sereias corresponde a uma ambiguidade das concepções de morte que lhes eram relacionadas, oscilando entre uma visão ctônica, temível, no mundo inferior, e uma visão celestial, de bem-aventurança, num mundo superior. A “pitagorização” da iconografia das Sereias, como musicistas tocando lýra ou aulós, corresponde a uma expectativa mais positiva do além-túmulo, sob a proteção das divindades musicais.
Keywords