Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
DESAFIOS DO DIAGNÓSTICO DE MIELOFIBROSE: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: Mielofibrose (MF) é uma neoplasia mieloproliferativa caracterizada por quadros de anemia, hematopoiese extramedular, fibrose da medula óssea, esplenomegalia e progressão para leucemia mieloide aguda. Seu diagnóstico pode ser um desafio, principalmente em pacientes triplo negativos. Objetivo: Relatar um caso de paciente com suspeita de MF e os desafios em seu diagnóstico. Material e métodos: Revisão de prontuário eletrônico, relato e discussão de caso clínico, utilizando dados do Pubmed, Medline, Google Acadêmico e COSMIC database. Relato de caso: Paciente de 54 anos, sexo masculino, com histórico de hepatite C tratada em 2014, desenvolveu plaquetopenia leve, considerada secundária à infecção. Em 2020, durante internação por COVID-19, nova plaquetopenia leve. Realizou TC abdominal com vasculite intestinal, tratada com corticoide. Em 2022, USG de abdome com esplenomegalia e edema difuso do trato digestivo. Colonoscopia: inflamação moderada de cólon, indicando doença inflamatória intestinal, sendo iniciada mesalazina. Biópsia de medula óssea, compatível com neoplasia mieloproliferativa crônica, com fibrose grau 3. Citogenética normal. Encaminhado ao nosso serviço, mutações JAK2, CARL, MPL e BCR-ABL negativos. Após extensa investigação, mantendo plaquetopenia leve, o diagnóstico hematológico definido foi mielofibrose secundária a processo autoimune. Em 2023, evoluiu com pancitopenia (Hb = 7,3 Leucócitos = 700 Plaquetas = 99.000) e DHL aumentado. Realizou nova BMO com expansão reticulinica difusa (grau 3), compatível com MF primária. Suspensa mesalazina e iniciada prednisona 40 mg/dia (retirada após desmame), evoluindo com normalização do hemograma e da esplenomegalia. Realizado NGS com as mutações BCORL1 S894P (100%) e GATA2 G450A (44,5%), ambas de significado incerto. Mantivemos o diagnóstico de mielofibrose secundária. Discussão: Apesar dos avanços consideráveis na compreensão das bases genéticas, a MF ainda é uma neoplasia complexa. Mutações envolvendo JAK2, CALR ou MPL estão presentes em 90% dos pacientes, chamadas “drivers disease”. Alterações epigenéticas, de vias de sinalização, dentre outras, podem ter papel na patogênese da doença e são chamadas “clonal drivers”. No presente caso, observa-se que, apesar dos critérios clínicos, como BMO compatível, esplenomegalia, DHL aumentado, anemia, as mutações JAK2, CALR e MPL eram negativas (triplo negativo) e a citogenética normal. O NGS foi realizado no intuito de encontrar alterações clonais que pudessem estar associadas a MF. As “drivers disease” mais frequentes estão relacionadas aos seguintes genes: ASXL1, DNMT3A, IDH1, IDH2, EZH2, NRAS, KRAS, CBL, SRSF2, U2AF1, TP53, TET2, RUNX1, SF3B1 (e nem todos os tipos de mutações desses genes podem desenvolver doenças). Mutações do GATA2 e BCORL1 relacionadas a MF são raras, sem descrição das variantes alélicas encontradas em nosso NGS. Consideramos mutações de significado indeterminado, mielofibrose 2aria e seguimos acompanhando o paciente, caso desenvolva novas alterações. Conclusão: O diagnóstico de MF em pacientes triplo negativos pode ser um desafio e o advento de novas tecnologias, com a experiência constantemente adquirida, podem nos auxiliar quanto a clonalidades adicionais que definam o diagnóstico.