Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery (Jun 1992)

Tratamento cirúrgico da fibrilação atrial: procedimento do "labirinto": experiência inicial Surgical treatment of atrial fibrillation with "maze" procedure: initial experience

  • Adib D Jatene,
  • Eduardo Sosa,
  • Flávio Tarasoutchi,
  • Marcelo B Jatene,
  • Pablo M. A Pomerantzeff

Journal volume & issue
Vol. 7, no. 2
pp. 107 – 111

Abstract

Read online

O procedimento "labirinto" para o tratamento cirúrgico da fibrilação atrial (FA) proposto por Cox, para pacientes com FA, foi realizado entre julho de 1991 e maio de 1992, em nove pacientes, sendo sete do sexo feminino, com idade variando entre 37 e 63 anos (M = 51,4 anos). Oito pacientes tinham disfunções valvares reumáticas associadas (estenose mitral pura: seis pacientes; dupla disfunção mitral (DLM) um paciente e DLM e insuficiência trisúspide: um paciente). A FA foi classificada como crônica (mais de um ano de duração) de natureza reumática. Um paciente não tinha disfunção valvar associada e a FA foi considerada como paroxística recorrente refratária e não reumática. O procedimento cirúrgico foi realizado com o auxílio da circulação extracorpórea e consistiu na realização de múltiplas e previamente bem estabelecidas incisões nos átrios, de modo a tornar impossível a um impulso elétrico, originando-se em qualquer ponto dos átrios, retornar ao ponto de origem sem se deparar com uma linha de sutura. Isso impediria a ocorrência de reentrada em qualquer parte dos átrios. As múltiplas incisões são de tal foram realizadas que, adicionalmente, permitem que o impulso originado na região do nó sinusal atinja o nó AV e chegue aos ventrículos, após ter percorrido um "labirinto" criado pelas incisões. O procedimento foi complementado com comissurotomia mitral em seis pacientes, troca da valva mitral (TVM) em um paciente e TVM e plastia de DeVega (PdV) em valva tricúspide em um paciente. O primeiro paciente foi submetido a revisão cirúrgica para hemostasia. Nos demais, não houve problemas intra-operatórios. O segundo e o terceiro paciente apresentaram taquicardia atrial paroxística entre o terceiro e quinto dias de pós-operatório (PO). Um deles apresentou, também, no 15º dia. Em todos os casos, a arritmia foi controlada com amiodarona EV; o último paciente (com TVM e PdV) teve óbito no 45º dia de PO, por complicações infecciosas. Os pacientes restantes obtiveram alta hospitalar sem drogas antiarrítmicas. Em um período de um a dez meses (M = 5,4), os pacientes estão assintomáticos e o Holter mostra presença de ritmo atrial irregular permanente (com FC média de 70 a 80 bpm) com condução AV preservada; o ecodoppler mostra presença de contração atrial eficiente. Não houve recorrências de FA e nenhum dos pacientes. Em conclusão, podemos admitir que, a curto prazo, a técnica do "labirinto" na FA em reumáticos restaurou a contração atrial organizada e controlou a FC. Assim, pode contribuir para redução de fenômenos trombo-embólicos. Maior número de pacientes deve ser observado durante tempo prolongado para avaliação da eficácia do procedimento.The "maze" procedure for surgical treatment of chronic atrial fibrillation (AF) described by Cox was performed in 9 patients from July 91 to May 92; 7 were female and the ages range from 37 to 63y (51,4y). Eight patients had surgical rheumatic valve disfunction (mitral stenosis in 6; mitral double disfunction in 2 being 1 with associated tricuspid regurgitation) and 1 had recurrent paroxicistic AF with no valve disfunction. Surgical treatment was performed following the technique described by Cox and the surgery was completed with 6 mitral comissurotomies and 2 mitral valve replacements. Three patients had left atrial thrombosis. There were no immediate deaths and 1 patient died in the 45th day with infeccious complications. The first patient required reoperation for bleeding review. Second and 3rd patients presented transitory atrial tachycardia in 3rd and 5th day, controlled with intravenous amiodarone. No other complications were observed. In a mean follow up period of 5,4m (1 to 10 m), all patients were in regular atrial rhythm without antiarrhythmic drugs. Effective atrial contraction was demonstrated by ECHO in all patients and no one returned to AF. In conclusion, this initial follow up showed good results in rheumatic AF and more clinical observation is necessary to a definitive evaluation.

Keywords