Revista Portuguesa de Cardiologia (May 2019)

Será a síndrome metabólica um marcador de prognóstico em doentes com elevado risco cardiovascular? Um estudo de coorte a longo‐prazo

  • Ana Teresa Timóteo,
  • Miguel Mota Carmo,
  • Cristina Soares,
  • Rui Cruz Ferreira

Journal volume & issue
Vol. 38, no. 5
pp. 325 – 332

Abstract

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Resumo: Introdução: Doentes com obesidade têm um maior risco de eventos cardiovasculares em prevenção primária. Em prevenção secundária tem sido descrito um paradoxo da obesidade. Foi nosso objetivo estudar uma coorte de indivíduos analisados previamente num estudo transversal sobre a relação entre síndrome metabólica (SM) e doença coronária (DC), estudando presentemente o impacto da SM na ocorrência de eventos cardiovasculares a longo‐prazo. Métodos: Foram analisados 296 indivíduos num seguimento médio de 6,9 ± 2,2 anos. Os indivíduos foram divididos em quatro grupos em função da presença ou ausência de SM e de DC (estenoses coronárias ≥ 70%). Resultados: A população analisada tinha uma idade de 65 ± 9 anos no início do estudo, 59,5% do sexo masculino, 55,7% com SM e 41,6% com DC. No seguimento, ocorreram 10,1% de mortes por todas as causas, 3,7% mortes cardiovasculares, 14,2% reinternamentos cardiovasculares e 22,0% de eventos compostos (morte, síndrome coronária aguda, revascularização coronária, acidente vascular cerebral/isquémico transitório, admissão por insuficiência cardíaca). Não se verificaram diferenças significativas em termos de mortalidade. Ambos os grupos com DC tiveram mais reinternamentos e eventos compostos (Log‐rank, p < 0,001 e p = 0,001, respetivamente), mas sem diferenças em relação à presença de SM. A DC foi preditora independente de reinternamento cardiovascular (HR 3,21, IC 95% 1,66–6,21) e de eventos compostos (HR 2,41, IC 95% 1,44–4,02). Conclusões: Em doentes de elevado risco cardiovascular ou com doença coronária estabelecida, a presença de SM não se associou a aumento de eventos cerebrais ou cardíacos num seguimento a longo‐prazo. Abstract: Introduction: Obese patients are at higher cardiovascular risk in primary prevention. In secondary prevention, an obesity paradox has been reported. We analyzed a cohort of individuals from a previous cross‐sectional study on the impact of metabolic syndrome (MS) on coronary artery disease (CAD), aiming to assess the occurrence of cardiovascular events in a long follow‐up. Methods: We analyzed 296 individuals in a mean follow‐up of 6.9±2.2 years. Subjects were divided into four groups according to the presence of MS or CAD (defined as ≥70% coronary stenosis). Results: The study population had a mean age of 65±9 years at the beginning of the study; 59.5% were male, 55.7% had MS and 41.6% had CAD. During follow‐up 10.1% of the population suffered all‐cause death, 3.7% cardiovascular death, 14.2% cardiovascular readmission and 22.0% the composite outcome (mortality, acute coronary syndrome, coronary revascularization, stroke/transient ischemic attack or heart failure admission). There were no significant differences in any type of mortality. Patients with CAD had more readmissions and composite outcomes (log‐rank p<0.001 and p=0.001, respectively), but there was no difference according to the presence of MS. Only CAD was an independent predictor of cardiovascular admission (HR 3.21, 95% CI 1.66‐6.21) and composite outcomes (HR 2.41, 95% CI 1.44‐4.02). Conclusions: In patients with high cardiovascular risk or established CAD, the presence of MS is not associated with cerebral or cardiac events in long‐term follow‐up. Palavras‐chave: Síndrome metabólica, Doença coronária, Eventos cardiovasculares, Prognóstico, Keywords: Metabolic syndrome, Coronary artery disease, Cardiovascular events, Prognosis