Revista Criação & Crítica (Dec 2016)
Quase autoficção: o embrulho misterioso como legado do pai na obra de Carlos Heitor Cony
Abstract
O artigo aborda a narrativa Quase memória: quase-romance (1995), de Carlos Heitor Cony, levando em consideração aspectos que permitem classificá-la como autoficção, tais como a identidade real de seus personagens, a data da morte de seu pai e a presença de um misterioso embrulho deixado por este, cena também presente em romances como Matéria de memória (1963) e no volume memorialístico Eu, aos pedaços: memórias (2010). O objetivo é demonstrar que, a despeito de o autor não a rotular como tal, é possível compreender a narrativa híbrida de Cony sob o prisma autoficcional, tantos são os elementos de indeterminação e indecidibilidade do texto. A análise é feita a partir de pressupostos teóricos relacionados ao “pacto autobiográfico” proposto por Phillipe Lejeune em 1975 e de conceitos ligados à ideia de autoficção, desenvolvidos, dentre outros, por intelectuais franceses como Serge Doubrovsky, Jacques Lecarme e Vincent Colonna.