Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DO STATUS SOCIOECONÔMICO COM AS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E DEMOGRÁFICAS AO DIAGNÓSTICO DOS PACIENTES COM MIELOMA MÚLTIPLO

  • LPSA Coelho,
  • RLR Baptista,
  • GAB Bretas,
  • ACAA Lima,
  • I Biasoli,
  • AR Soares

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S529 – S530

Abstract

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O mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica que resulta da proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea, com quadro clínico heterogêneo, sendo comuns anemia, hipercalcemia, disfunção renal e lesão óssea. A associação entre status socioeconômico e desfechos relacionados ao câncer já foi abordada por diversos autores. Estudos sobre neoplasias sólidas e hematológicas revelam que estadiamento, tratamento e prognóstico são impactados por desigualdades socioeconômicas. Isso ocorre porque as condições de vida afetam o acesso ao sistema de saúde, o tempo para diagnóstico, a aderência ao tratamento, dentre outros fatores, o que, por conseguinte, relaciona-se à mortalidade/sobrevida do câncer. Informações referentes ao MM no Brasil, com foco nas características socioeconômicas dos seus portadores, são escassas. Objetivos: Analisar a associação das condições socioeconômicas com as características clínicas e demográficas na apresentação e os dados do tratamento e desfechos dos pacientes com MM de três instituições no Rio de Janeiro, além de descrever os aspectos clínicos, sociodemográficos, terapêuticos e desfechos e de avaliar a aplicabilidade de instrumentos de medida socioeconômica. Material e métodos: Trata-se de coleta retrospectiva de dados dos pacientes com diagnóstico de MM entre janeiro/2015 e fevereiro/2023, nos serviços de Hematologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, do Hospital de Força Aérea do Galeão e do Instituto Oncologia D'Or, com aplicação do questionário de estratificação em classes sociais CCEB-2021 aos pacientes ou aos familiares (em caso de óbito do paciente). Para avaliação socioeconômica, também foram coletadas informações sobre grau de escolaridade e estimada a renda per capita de acordo com o local de residência de cada indivíduo. Resultados: Foram incluídos 296 pacientes, sendo a maior parte composta por mulheres e com mediana de idade ao diagnóstico de 65,6 anos. A maioria tinha queixas relacionadas à lesão de órgão-alvo, pior performance status (PS) e estágio de Durie Salmon (DS) III. As medianas de tempo para diagnóstico e para início de tratamento foram de 4,7 meses e 24 dias, respectivamente. Dezoito pacientes faleceram antes do início da quimioterapia, e transplante autólogo de medula óssea foi realizado em 120 indivíduos. Houve 139 casos de óbito, e as principais causas foram doença e infecção. Discussão: Foi possível demonstrar a associação de classe social mais baixa, menor grau de escolaridade e/ou menor renda com maior tempo para o diagnóstico, estágio de DS avançado, pior PS, menores níveis de hemoglobina, cálcio mais elevado e mais sintomas ao diagnóstico. Além disso, também foi observado, nos pacientes com pior status socioeconômico, um menor uso de medicamentos mais modernos e eficazes, maior tempo para realização de transplante de medula, menos tratamento de manutenção pós-transplante e maiores taxas de mortalidade precoce, em até três meses após o diagnóstico. Conclusão: Estes achados confirmam uma expectativa subjetiva dos profissionais envolvidos no cuidado dos pacientes com MM, com dados reais da assistência no Brasil, e devem ser considerados na formulação de políticas de saúde para o diagnóstico precoce das neoplasias hematológicas e acesso mais amplo às terapias mais modernas, que certamente levarão a melhores desfechos terapêuticos.